segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Freud e a estrutura do mecanismo psíquico

Para Freud, a estrutura psíquica do ser humano tem três instâncias: Id, Superego e Ego.

O ID
Opera de  acordo com o PRINCÍPIO DO PRAZER
       
Procura apenas a satisfação de suas necessidades instintivas, sem levar em conta as circunstâncias da realidade objetiva, como juízos de valor, o bem, o mal e a moral. O ID é amoral, atemporal, egoísta, agressivo e não tem consciência da realidade. Ele apresenta a liberdade máxima de todos os desejos, sem julgamentos. O ID sempre quer alcançar um objetivo, o de que deve se evitar a dor e obter sempre o prazer. Seus conteúdos são inconscientes e socialmente inaceitáveis. Contém também as lembranças traumáticas que causam ansiedade.

O SUPEREGO
Opera de acordo com o PRINCÍPIO DO DEVER

É a força da cultura, da família e da tradição, que exerce grande influência na estrutura e na dinâmica da mente humana. O SUPEREGO de uma criança é construído segundo o modelo do SUPEREGO de seus pais. Os conteúdos que ele contém são os mesmos e torna-se veículo da tradição e dos valores que se transmitiram de geração em geração. Cada um carrega dentro de si a criança que foi. O SUPEREGO produz angústias, ansiedades e castiga o EGO quando este aceita impulsos vindos do ID. Ele é responsável pela sensação de culpa e cobrança que fazemos a nós mesmos. O SUPEREGO é a parte moral da personalidade, e tem como característica o que é ideal e perfeito. Portanto, o SUPEREGO é aquele que controla a estrutura psíquica. É uma força parcialmente consciente e dele nascem os sentimentos de medo e de culpa.
                O SUPEREGO é o "defensor de um impulso rumo à perfeição".

O EGO (eu)
Opera de acordo com o PRINCÍPIO DA REALIDADE


É ligado ao consciente e pré-consciente. Sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as 'ordens' do superego; Sua principal tarefa é zelar pela autopreservação do ser, por sua saúde e segurança. A vida do EGO é uma grande angústia, pois deve lidar com as exigências do ID, movido pelo princípio do prazer, sem deixar de atender às demandas do SUPEREGO. Do desequilíbrio dessa relação nascem as psicoses e neuroses.  É o EGO quem controla as ações,  adaptando o homem para as circunstâncias e a vida em sociedade. 


O relacionamento entre ID, o EGO e o SUPEREGO

        O SUPEREGO está evidentemente em conflito com o ID. Ao contrário do EGO, o SUPEREGO não tenta apenas adiar a satisfação do ID; ele tenta inibi-la por completo, o que causa um conflito interminável no interior da personalidade humana.
                O EGO está numa posição difícil, sendo pressionado por todos os lados, cabendo a ele:
  1. adiar os anseios incessantes do ID;
  2. perceber e manipular a realidade para aliviar as tensões do instinto do ID;
  3. lidar com o anseio de perfeição do SUPEREGO. 

Freud e a interpretação dos sonhos

O sonho é a manifestação do desejo
Existe ligação entre o mundo onírico e o da vigília?                        

Há várias maneiras de examinar o inconsciente, mas para Freud, os sonhos são o caminho privilegiado. No sonho há um “conteúdo manifesto” (o que recordamos) e um “conteúdo latente” (o sentido do sonho que o indivíduo não sabe reconhecer). Esse conteúdo pode ser descoberto pela decifração do seu simbolismo.
O sonho é a realização de um desejo até então reprimido, que a consciência censura e considera vergonhoso ou inaceitável socialmente. Interpretar os sonhos é o caminho real para o conhecimento do inconsciente.
 A fome, por exemplo, pode induzir sonhos relacionados à alimentação. As crianças, também sonham com aquilo que desejam ardentemente. É evidente, portanto, que o sonho, apesar das aparências, não está isento de lógica nem de ligação com o mundo da vigília.
Porém, o sonho manifesto, recordado de manhã, já sofreu uma censura.
Freud atribuía grande importância aos sonhos, como sendo um meio de revelar o inconsciente, porque ao dormirmos o nosso consciente está desprevenido. As ações em nossos sonhos, interpretadas corretamente, dão uma clara indicação dos desejos reprimidos e ansiedades alojadas em nosso inconsciente. Em conclusão, o sonho é a realização (mascarada) de um desejo (reprimido).
Além dos sonhos, há outros fenômenos como atos falhos e as piadas.
Os atos falhos são pequenos deslizes, como esquecimentos, trocas de nomes ou lapsos de linguagem aparentemente involuntários, mas que podem ser interpretados porque “traem” algum segredo.

A piada consiste em gracejos feitos sem aparente intenção de ofender ou seduzir, mas que revelam forças agressivas ou eróticas reprimidas.

Sigmund Freud e a Psicanálise

                 A Psicanálise
                
A principal característica do trabalho psicanalítico é o de conhecer o inconsciente e integrar (unir, aproximar) o que contém este inconsciente ao consciente.
A Psicanálise se torna instrumento de autoconhecimento com objetivo de devolver o sujeito a si mesmo, superando o aprisionamento das forças inconscientes, que podem retornar na forma de doença (neuroses) ou nos sonhos.

Uma vez que o inconsciente é inacessível, os conflitos só ficam aparentes pelos sintomas que se manifestam no plano consciente.
O sofrimento emocional, dizia Freud, é resultado de um conflito inconsciente, a partir de conteúdos recalcados, reprimidos.
A inovação de Freud está na possibilidade de lidar com os conflitos existentes no inconsciente e tratar distúrbios psicológicos.
“Falar liberta...”
A psicanálise tem como finalidade “levar o paciente a manifestar tudo o que chega a seu pensamento, renunciando a guiar o pensamento intencionalmente”.  É o que Freud chamou de “livre associação”.
Esse tratamento surgiu a partir da observação dos resultados de um método utilizado no qual o paciente falaria sobre seus problemas diários, e isso causava alívio. Era como se fizesse uma limpeza da alma. Freud passou, então, a utilizar esse procedimento com seus pacientes, fazendo com que eles relaxassem num divã e respondessem às suas perguntas.

Essa técnica não exerce pressão sobre o paciente, que não é forçado, mas guiado a deixar caminho livre para as ideias que lhe vem à mente. O analista, por sua vez, precisa desenvolver uma “arte da interpretação” e tudo é registrado, até mesmo as resistências (aquilo que o paciente tem dificuldade de falar).

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A teoria liberal – A Burguesia e a propriedade privada


Marilena Chauí

Para que o poder econômico da burguesia pudesse enfrentar o poder político dos reis e da nobreza, a burguesia precisava de uma teoria que lhe desse uma legitimidade tão grande ou maior do que o sangue e a hereditariedade davam à realeza e à nobreza. Em outras palavras, assim como o sangue e a hereditariedade davam à realeza e à nobreza um fundamento natural para o poder e o prestígio, a burguesia precisava de uma teoria que desse ao seu poder econômico também um fundamento natural, capaz de rivalizar com o poder político da realeza e o prestígio social da nobreza, e até mesmo superá-los.

Essa teoria será a da propriedade privada como direito natural e sua primeira formulação coerente será feita pelo filósofo inglês John Locke no final do século XVII e início do século XVIII.

Locke parte da definição do direito natural como direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação de ambas. Esses bens são conseguidos pelo trabalho.

Como fazer do trabalho o legitimador da propriedade privada enquanto direito natural?

Deus, escreve Locke, é um artífice, um arquiteto e engenheiro que fez um obra: o mundo. Este, como obra do trabalho divino, a ele pertence. É seu domínio e sua propriedade. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe o mundo para que nele reinasse e, ao expulsá-lo do Paraíso, não lhe retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que o teria com o suor do seu rosto. Por todos esses motivos, Deus instituiu, no momento da criação do mundo e do homem, o direito à propriedade privada como fruto legítimo do trabalho. Por isso, de origem divina, ela é um direito natural.

O Estado existe a partir do contrato social. Sua principal finalidade é garantir o direito natural de propriedade.

Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças ao seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade ou do trabalho alheio.

O burguês não se reconhece apenas superior social e moralmente aos nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o direito à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não conseguem tornar-se proprietários privados, são culpados por sua condição inferior. São pobres, não são proprietários e têm a obrigação de trabalhar para outros, seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumulá-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade.

Referência Bibliográfica: (Marilena Chaui, Convite à filosofia, São Paulo, Ática, 2005, cap. 11 – “As filosofias políticas”; a teoria liberal, p. 374s).

PARA REFLETIR...

1.      Qual a importância da teoria liberal de Locke para a sua época?

2.      Por que, segundo Locke, existe a desigualdade social?

3.      E atualmente, a teoria de Locke faz sentido? A sociedade capitalista pensa assim em relação à propriedade?

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Finalidade última da Filosofia



Em sua origem histórica, a relação da filosofia com a felicidade era fundamental, pois a vida boa seria a finalidade última da investigação filosófica. Para que você entenda bem o que queremos dizer com “finalidade última” de uma ação, observe a seguinte sequência de perguntas:
- Filosofar para quê?
Para pensar melhor sobre tudo: os fatos, as pessoas, a vida.
- Pensar melhor sobre tudo para quê?
Para encontrar soluções aos problemas da existência – a minha e a das outras pessoas.
- Encontrar essas soluções serve para quê?
Para ter menos problemas, ficar mais tranquilo e viver melhor.
- Viver melhor para quê?
Para me sentir bem, em paz comigo mesmo e com o mundo.
- Sentir-se assim para quê?
Para ser feliz.
- Ser feliz para quê?
Não sei. Talvez para deixar as pessoas que me cercam felizes também.
- Deixá-las felizes para quê?
Para que eu fique feliz com a felicidade delas.
Vemos que, no final, as respostas começam a ser circulares. Voltam sempre ao mesmo ponto, ou seja, à ideia desse sentimento de bem-estar, de satisfação consigo mesmo e com a vida, ligada também à sensação de plenitude, de já ter tudo e não precisar de mais nada. Essa é uma boa descrição da felicidade.
Portanto, finalidade última é aquela que está por detrás de todas as finalidades mais imediatas e conscientes de uma ação geralmente inconsciente, ela é o motivo fundamental de uma conduta.


(COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013).

segunda-feira, 26 de maio de 2014

"O inferno são os outros" (Sartre)


Um dos temas filosóficos que mais pode despertar o interesse e a curiosidade é o da intersubjetividade, isto é, as relações entre os indivíduos. A partir da perspectiva do filósofo francês Jean-Paul Sartre, pode-se refletir sobre esse assunto tão complexo, e que nos afeta cotidianamente.
 Há uma frase bastante famosa de Sartre, presente em uma das peças de teatro que ele escreveu, chamada Entre quatro paredes (Huis clos no original francês), que pode resumir o ponto de vista do autor sobre a intersubjetividade: o inferno, são os outros”. À primeira vista, essa frase pode ser lida como um atestado de pessimismo quanto ao sucesso das relações humanas – mas, não é bem assim.

Em sua principal obra, O ser e o nada, Sartre aponta que a característica essencial do homem é sua liberdade radical (isto é, o homem é ontologicamente livre, é livre em seu ser). Há um famoso jargão existencialista (movimento filosófico que tinha em Sartre um de seus mais importantes filósofos), que diz que, no homem, “a existência precede a essência”. Bem resumidamente falando, isso significa que, para um existencialista, o homem primeiro nasce, passa a existir no mundo, e só depois, no decorrer de sua vida, ele constrói algo que possa ser chamado de sua “essência” – aquilo pelo qual identificamos cada pessoa em particular. Essa “essência” se forma, basicamente, pelas escolhas que cada um de nós faz ao longo de nossas vidas (valores, profissão, a forma de se relacionar com os outros, opiniões, gostos, crenças, etc.). Ainda na peça Entre quatro paredes, Sartre afirma que, afinal, um homem “nada mais é do que a soma das escolhas que fez durante sua vida”. É nesse movimento que nossa existência pode ganhar um sentido que, a priori (antes) ela não tem.

Se o homem é fundamentalmente livre, mesmo alguém mantido sob a mais cruel dominação, no fundo permanece livre em seu ser, em sua consciência. Quer dizer, um homem jamais conseguirá dominar plenamente o outro, penetrar plenamente em sua consciência: sempre haverá lá uma resistência, um resquício de liberdade. Em outros termos, um homem nunca pode ser reduzido completamente à condição de um objeto; a isso sempre haverá uma espécie de oposição por parte de nossa consciência, vinda de nossa liberdade radical.

Nesse sentido, as relações humanas são, a princípio, conflituosas: quando encontro o outro, há um confronto entre minha liberdade e a dele. Porém, e isso é importante, esse conflito não é tudo. Eu preciso do outro, por exemplo, para me conhecer plenamente, para escapar ao que Sartre chama de má-fé, essa espécie de mentira que contamos a nós mesmos para fugir da angústia, que se origina da responsabilidade que temos por nossas escolhas (por exemplo: fui mal numa prova hoje. Ontem, porém, ao invés de estudar, resolvi ficar vendo TV. Para Sartre, é preciso que ajamos autenticamente diante dessa situação, é preciso que eu assuma a responsabilidade de que fui mal porque não quis estudar, porque preferi ficar vendo TV. No entanto, frequentemente agimos de “má-fé”, e tentamos nos enganar, por exemplo, dizendo que fomos mal na prova porque ela estava muito difícil, ou porque o professor é ruim, etc., eliminando o peso da responsabilidade por nossas escolhas). O olhar alheio (do outro) é responsável por nos ajudar a escapar da tentação da má-fé, ele é responsável por nos dizer quem somos, e não quem pensamos ser – o que é fundamental se quisermos melhorar, crescer, evoluir em todos os aspectos. Isso para não falar do necessário processo de socialização, sem o qual não conseguiríamos sobreviver.
O olhar da Monalisa parece saber
algo que escondemos

Assim, na perspectiva sartriana, não há relação humana que não carregue em si mesma um germe de tensão. “O inferno são os outros”, para Sartre, significa justamente isso: porque o outro também é livre, não podemos controlar completamente o que ele pensa, o que ele nos diz, o limite que ele impõe à nossa liberdade (o que frequentemente gera conflito); mas, ao mesmo tempo (daí vem a tensão), preciso dele, de seu olhar (ainda que, muitas vezes, esse olhar veja algo em nós que não gostamos), para me conhecer e poder agir no mundo, pois apenas por nossas ações (sobretudo as que interferem positivamente na vida dos outros), e no nosso contato intersubjetivo autêntico (que ocorre quando encaro o outro como um ser igualmente livre, e não como um simples objeto), que podemos superar nossa situação e dar um sentido legítimo à nossa existência.

A perspectiva filosófica de Sartre sobre as relações com os outros traz alguns elementos importantes para pensarmos. No fundo, o que a teoria sartriana coloca é que, se o homem é livre, toda relação humana baseia-se numa escolha de cunho moral, quer dizer, na forma como escolhemos ver e nos relacionar com o outro. Ao fim e ao cabo, segundo Sartre, a última palavra compete a cada indivíduo. Mas, com base no que foi exposto, você poderia questionar: numa sociedade altamente individualista como a nossa, na qual a maioria das pessoas é vista como uma simples mercadoria, ou como número para estatísticas, como relacionar nossa liberdade com o respeito e a afirmação da liberdade do outro? Parece que um dos desafios contemporâneos é justamente tentar desatar esse nó.


Reflita e responda:
Como entender a ideia de Sartre de que “o inferno são os outros”, mas que ao mesmo tempo, precisamos do outro. Explique.

Para quem se interessar:

SARTRE, Jean-Paul.
 Entre quatro paredes, ed. Civilização Brasileira.
_________________.
 O ser e o nada, ed. Vozes (Terceira Parte, sobretudo); 
http://filosofiaecoisasdavida.blogspot.com.br/ acesso em 22/05/2014.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O EXISTENCIALISMO E A LIBERDADE HUMANA


O Existencialismo

“O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”.

      O filósofo que mais se preocupou em discutir temas relacionados com a liberdade, para o exercício da ética, foi o francês Jean-Paul Sartre (1905 - 1980).
Jean-Paul Sartre tornou-se o filósofo mais conhecido da corrente filosófica existencialista. A filosofia existencialista concentra-se sobre o nosso estar no mundo e sua principal preocupação diz respeito às condições que criamos para nossa existência e não às condições criadas pela Natureza. Conforme Sartre, nós existimos no mundo e depois definimos o que queremos ser. “O homem tem a liberdade de fazer-se”. Isto é, podemos construir a nossa existência conforme as escolhas que fazemos.

A Liberdade

Sartre deu atenção especial ao tema da liberdade e da angústia que se sente pela insegurança, ao ver-se, constantemente diante de situações que exigem que façamos escolhas.  E essas escolhas precisam ser éticas, pois vivemos com outras pessoas.

Sartre defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável (que não se pode negar) à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, já que sempre haverá uma opção de escolha. O ser humano não pode viver sem fazer escolhas, essa é sua "condenação".

Mesmo diante de A, pode optar por escolher não-A. Quer dizer, mesmo diante de uma coisa (A), pode escolher o contrário (não-A). Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que decide sobre o seu destino. O próprio destino depende das escolhas que cada um faz para sua vida.


A existência precede a essência

O argumento de que a essência precede (vem antes) a existência implica a necessidade de um criador; assim, quando um objeto vai ser produzido (um martelo, uma caneta, uma máquina), ele obedece a um plano pré-concebido, que estabelece sua forma, suas principais características e sua função, ou seja, ele possui um propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade, e precede a sua existência. Sendo Sartre um representante do existencialismo ateu (que não considera a existência de um deus), ele defende que há um ser onde essa situação se inverte, e a existência precede a essência: o ser humano. Assim, seria o próprio homem o definidor de sua essência, e não Deus, como falava o existencialismo cristão.Isso significa que, para ele, o ser humano é um nada quando nasce, isto é, quando passa a existir. Só depois, à medida que vai existindo e se definindo é que passa a ser (ser algo). No início há apenas esse nada, que confere ao ser humano a liberdade de escolha e a grande responsabilidade de construir a si mesmo dentro das condições encontradas desde seu nascimento. 

        Em sua conferência "O existencialismo é um humanismo", Sartre afirma que o ser humano é o único nesta condição; nós existimos antes que nossa essência seja definida. Esse seria um dos preceitos básicos do Existencialismo. Assim, o autor nega a existência de uma suposta "essência humana" (pré-concebida), seja ela boa ou ruim. As nossas escolhas cabem somente a nós mesmos, não havendo, assim, fator externo que justifique nossas ações. O responsável final pelas ações do homem é o próprio homem.

Liberdade e Responsabilidade
             
             Nesse sentido, o existencialismo sartriano concede importante destaque à responsabilidade: cada escolha carrega consigo a obrigação de responder pelos próprios atos, um encargo que torna o homem o único responsável pelas consequências de suas decisões. E cada uma dessas escolhas provoca mudanças que não podem ser desfeitas, de forma a modelar o mundo de acordo com seu projeto pessoal. Daí a importância de usar bem a liberdade para agir de maneira ética nas relações sociais.

        Assim, perante suas escolhas, o homem não apenas torna-se responsável por si, mas também por toda a humanidade. Essa responsabilidade é a causa da angústia dos existencialistas. Essa angústia decorre da consciência do homem de que são as suas escolhas que definirão a sua essência, e mais, de que essas escolhas podem afetar, de forma irreversível, o próprio mundo. A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade em usá-la de forma adequada (Ética).


Reflita e Responda:
1.       Explique a afirmação: “O importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele”. O que na frase se refere ao determinismo e o que se refere à liberdade?
2.       O que significa dizer “O homem tem a liberdade de fazer-se”?
3.       No caso do ser humano, “a existência precede a essência”. Conforme o texto, o que isso quer dizer?
4.       Explique a relação entre “angústia” e a “condenação à liberdade” pensada por Sartre.


Referência Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
FILHO, Clóvis de Barros; POMPEU, Júlio. A Filosofia Explica as Grandes Questões da Humanidade. Editora Leya. Rio de Janeiro. 2013.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Avaliação

EE NEWTON CAMARA LEAL BARROS
 ENSINO MÉDIO INTEGRAL
Avaliação Parcial - 2°Bimestre  -  Disciplina: Filosofia  -  Prof. Alex (0,5 cada acerto)
Aluno (a):_________________________________  N°______ 
Série:_______  Data:  ____/_____/______
1.       Leia o fragmento a seguir:
“Tudo o que existe, seja humano, animal ou vegetal é o que é por ser ou conter o úmido. Quando a umidade desaparece o ser deixa de existir. Logo, o elemento que se encontra constantemente presente na vida é a água”. (Tales de Mileto)
O texto acima se refere a que período da história da Filosofia? Justifique.

2.       Aristóteles, sistematizador da filosofia, classificou as ciências em produtivas (conhecimento que tem como finalidade a produção de um objeto ou de uma obra, como a Arquitetura, a Escultura, a Poesia, a Medicina); práticas (aquelas que estudam as ações humanas em relação ao próprio ser humano, como a Ética e a Política); e teoréticas, contemplativas ou teóricas (aquelas que estudam as coisas que não são feitas pelo homem; entre essas ciências estão a Biologia, a Física e a Matemática).
Elabore um esquema com a classificação que Aristóteles fez das ciências.


3.       Leia as questões abaixo:
Porque chove?
O que é o trovão?
De onde vem o relâmpago?
Por que crescem as plantas?
Por que cai a noite e a seguir vem o dia de novo?
O que são as estrelas?
As questões acima foram feitas por filósofos de um determinado período da história da filosofia. Qual? Justifique.

4.       “Assim, me parece que, ao discutir os problemas naturais (fazer ciência), não se deveria partir da autoridade das passagens da Sagrada Escritura (Bíblia), mas sim da experiência dos sentidos e das demonstrações necessárias. Assim, se as Escrituras dizem coisas que diferem muito da verdade, a natureza, pelo contrário, obedece às leis que lhe são impostas sem se preocupar se estão ao alcance das nossas capacidades humanas”.
O texto acima traz uma reflexão importante sobre o início de um período revolucionário da história da Filosofia. Identifique qual e justifique.

5.       No filme “Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg, o garoto-robô David é programado para amar. No decorrer da história, sofre com os conflitos que surgem entre ele e a família que o adotou, pois ele leva às últimas consequências o desejo de se tornar humano, para ser amado. O assunto desse filme poderia ser refletido por filósofos da:
A) Filosofia Medieval, pois fala do amor entre os seres humanos.
B) Filosofia Moderna, pois fala de como a ciência pode aproximar o ser humano das máquinas, sem que surjam problemas.
C) Filosofia Contemporânea, pois serve para pensar sobre os problemas que ocorrem quando o homem quer humanizar a máquina.
D) Filosofia Antiga, pois trata de conflitos humanos que, desde a Antiguidade, fazem parte dos relacionamentos.

6.       “Os seres humanos são seres racionais. Para que sejam racionais, os humanos devem ter livre-arbítrio. Isso significa que devem ser capazes de escolher entre o bem e o mal. Os humanos podem, portanto, agir bem ou mal. Deus não é a origem do mal”. (Santo Agostinho)
O fragmento acima trata da “origem do mal”, uma das questões tratadas num determinado período da história da Filosofia. O assunto refletido no texto pertence a:

A) Filosofia Contemporânea, pois reflete sobre o bem e o mal da atualidade.
B) Filosofia Antiga, pois afirma Deus como a origem de tudo.
C) Filosofia Moderna, pois afirma a racionalidade humana acima de tudo.
D) Filosofia Medieval, pois trata daquilo que é de Deus, bem como o que é próprio do homem.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Filosofia Contemporânea

Filosofia Contemporânea
(do século XIX até os nossos dias)

A idade contemporânea caracteriza-se, sobretudo pela crise da razão. Conforme a mudança tecnológica se acelerava e a fé na razão diminuía, o pensamento tomaria uma nova direção.

No início da modernidade houve a ideia de progresso, isto é, de que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhorariam com o passar do tempo, acumulariam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro será melhor e superior, se comparado ao presente. É o chamado Positivismo.

No século XIX, entusiasmada com as ciências e as técnicas, a Filosofia afirmava a confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para dominar e controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos.
No entanto, no século XX, os filósofos passaram a desconfiar do otimismo científico-tecnológico do século anterior ao observarem vários acontecimentos: as duas guerras mundiais, a bomba atômica, os campos de concentração nazistas, a devastação de mares, florestas e terras, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, etc.

A grande questão da Filosofia Contemporânea é a crescente desumanização gerada pela sociedade atual.

Principais pensadores contemporâneos:
Augusto Comte, Karl Marx, Nietzsche, Theodor Adorno,
 Jean-Paul Sartre,Michel Foucault.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Reforma Protestante e Contra-Reforma


Causas
         O processo de reformas religiosas teve início no século XVI. Podemos destacar como causas dessas reformas: abusos cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão de mundo, fruto do pensamento renascentista.
A Igreja Católica vinha, desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade. Gastos com luxo e preocupações materiais estavam tirando o objetivo católico dos trilhos. Muitos elementos do clero estavam desrespeitando as regras religiosas, principalmente o que diz respeito ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e comandar os rituais, deixavam a população insatisfeita.
A burguesia comercial, em plena expansão no século XVI, estava cada vez mais inconformada, pois os clérigos católicos estavam condenando seu trabalho. O lucro e os juros, típicos de um capitalismo emergente, eram vistos como práticas condenáveis pelos religiosos.
Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro para a construção da basílica de São Pedro em Roma, com a venda das indulgências (venda do perdão).
No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram próprios da realeza.
O novo pensamento renascentista também fazia oposição aos preceitos da Igreja. O homem renascentista, começava a ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Um pensamento baseado na ciência e na busca da verdade através de experiências e da razão.

A Reforma Luterana

O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da Igreja Católica. Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as 95 teses que criticavam vários pontos da doutrina católica.
As 95 teses de Martinho Lutero condenava a venda de indulgências e propunha a fundação do luteranismo ( religião luterana ). De acordo com Lutero, a salvação do homem ocorria pelos atos praticados em vida e pela fé. Embora tenha sido contrário ao comércio, teve grande apoio dos reis e príncipes da época. Em suas teses, condenou o culto à imagens e revogou o celibato. 
Martinho Lutero foi convocado as desmentir as suas 95 teses na Dieta de Worms, convocada pelo imperador Carlos V. Em 16 de abril de 1521, Lutero não so defendeu suas teses como mostrou a necessidade da reforma da Igreja Católica.

A Contra-Reforma Católica
Preocupados com os avanços do protestantismo e com a perda de fiéis, bispos e papas reúnem-se na cidade italiana de Trento (Concílio de Trento) com o objetivo de traçar um plano de reação. No Concílio de Trento ficou definido: 
- Catequização dos habitantes de terras descobertas, através da ação dos jesuítas;
- Retomada do Tribunal do Santo Ofício - Inquisição : punir e condenar os acusados de heresias.
- Criação do Index Librorium Proibitorium (Índice de Livros Proibidos): evitar a propagação de ideias contrárias à Igreja Católica.

Intolerância

Em muitos países europeus as minorias religiosas foram perseguidas e muitas guerras religiosas ocorreram, frutos do radicalismo. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), por exemplo, colocou católicos e protestantes em guerra por motivos puramente religiosos. Na França, o rei mandou assassinar milhares de calvinistas na chamada Noite de São Bartolomeu.

Você sabia?
- É comemorado em 31 de outubro o Dia da Reforma Protestante. A data é uma referência aos 31 de outubro de 1517, dia em que Martinho Lutero pregou suas 95 teses na porta da Igreja de Wittemberg (Alemanha).