quarta-feira, 23 de abril de 2014

Epicuro e o prazer


      Epicuro (341-270 a.C.) um cidadão de família nobre de Atenas, fundou em 306 a.C. uma escola no jardim de uma grande casa. Segundo o epicurismo, a filosofia deve servir para libertar o homem do medo do destino, da morte, das divindades. Epicuro é representante de uma teoria filosófica chamada Hedonismo. A ética (modo de agir) que os epicuristas defendiam é que o supremo bem a ser buscado na vida é o prazer (em grego, hedon). Sobre a morte, ele enunciou um princípio ético: não há que temer a morte, pois com a morte nada sentimos e depois dela não mais existimos. Trata-se, então, de viver plenamente a vida.


Habitua-te a pensar que a morte nada mais é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é privação da sensibilidade. (EPICURO. Antologia de textos. 3ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. p. 13. (Os Pensadores)

No entanto, o epicurismo afirmava que a finalidade da vida é o prazer. Não um prazer obtido simplesmente, por meio dos instintos ou das paixões; e sim pela razão: o verdadeiro prazer estaria em superar todos os desejos, não ter necessidade de nada.
Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que s encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimento do corpo e de perturbações da alma.
(Antologia de textos, Epicuro)

            A doutrina epicurista afirmava ainda que valores como a amizade, o pensamento, a apreciação das belezas naturais e das artes são formas de obter essa satisfação. A felicidade – a paz espiritual – (ataraxia, em grego) seria alcançada quando o homem atingisse o autodomínio, isto é, se libertasse de todos os medos e desejos, agindo somente segundo sua vontade.

            É importante observar, contudo, que ao falar em prazer Epicuro não se referia ao prazer sensorial, mas ao prazer racional. Tratava-se do prazer do sábio o exercício da quietude da mente e da paz de espírito, o controle sobre as emoções e o domínio de si mesmo. Esse é o verdadeiro prazer, fonte da saúde e da felicidade. Entre os prazeres intelectuais, Epicuro incluía a amizade. Assim, sua escola, O Jardim, era uma comunidade na qual os discípulos compartilhavam a vida com o mestre, vivendo longe das agitações da cidade.

Eliminar ou moderar os desejos

Epicuro também dizia que quem espera muito sempre corre o risco de se decepcionar. Por isso, ele recomendava  que as pessoas eliminassem todos os desejos desnecessários e se permitissem apenas os naturais e necessários, mesmo assim com moderação. Isso significa fazer uma distinção entre os desejos, que, para o filósofo, podiam ser classificados em três tipos:
Naturais e necessários: como os desejos de comer, beber e dormir;
Naturais e desnecessários: como os desejos de comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais e caras e dormir em lençóis luxuosos;
Não naturais e desnecessários: como os desejos de riqueza, fama e poder.

Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um copo de água. Gozar o prazer eventual de um banquete ou de um cargo elevado não é proibido, mas não deveria ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade.

Devemos escolher os prazeres com prudência racional. Alguns são mais duradouros e encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes e a audição de música. Já outros, movidos pela explosão, são muito intensos e imediatos, mas perdem sua força com o passar do tempo. Esse discernimento nos possibilita realizar uma escolha prudente e racional dos prazeres, evitando aqueles que podem produzir infelicidade.

Em suma, o epicurismo constitui uma ética hedonista, colocando o “verdadeiro prazer”, o prazer do repouso do espírito, como o bem a ser almejado. Não se trata de uma busca desenfreada por bens materiais, mas do exercício paciente do pensamento como forma de produzir a tranquilidade da alma. A felicidade consiste, para Epicuro, em não sofrer no corpo, evitando as dores que podem ser evitadas, e não ter a alma perturbada. 

QUESTÕES PARA REFLETIR E CONSTRUIR O PENSAMENTO

1.  Explique o que significa a teoria hedonista.
2. Escreva exemplos de desejos naturais e necessários, e desejos não necessários e não naturais.
3. Escreva exemplos de prazeres que duram pouco e prazeres que duram mais.
4. Por que podemos dizer que a filosofia epicurista é uma ética?
5. Faça uma lista abrangente de seus desejos. depois procure classificá-los de acordo com a teoria de Epicuro. 
6. Você acredita que, se desenvolvesse o autocontrole e apenas desejasse o que é natural e necessário, sofreria menos ou seria mais feliz?


Referência Bibliográfica:

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
EPICURO. Antologia de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (col. Os Pensadores)
_________. O epicurismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010.

2 comentários:

  1. Achei o texto interessante pois muitas vezes buscamos prazeres passageiros que não trazem a felicidade. Usar a sabedoria é escolher os prazeres que trazem mais felicidade.

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  2. Achei o texto muito bom , parabéns professor . Basicamente temos que ter auto controle sobre nossos desejos e manter o equilíbrio em nossas vidas , para nada virar algo vicioso que logo resultaria na infelicidade .

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