terça-feira, 29 de abril de 2014

Viver não é preciso



“Navegar é preciso, viver não é preciso”.
(Pompeu, general romano, séc. I a.C.)

        Para Pompeu, a frase é clara: diante dos marinheiros temerosos de enfrentarem a tempestade e a guerra, o general é incisivo: é preciso navegar e até enfrentar a morte. “precisar” é verbo. 
           Na segunda parte da frase, “preciso” não é um verbo, mas um adjetivo: a vida não é algo “exato”. 
         
        -A navegação é precisa porque depende de instrumentos, de mapas, que levam os navegantes ao porto seguro.
         A vida não é precisa porque não há roteiros, receitas nem modelos para bem viver com grandeza; cada um de nós está diante da liberdade de escolher caminhos, para o bem ou para o mal; “A vida navega nas águas da liberdade”.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Filosofia Moderna


Filosofia Moderna
(do século XV ao final do século XVIII)
“Ouse Pensar.” (Kant)

      Nessa época, o teocentrismo (Deus é o centro) começa a ficar para trás. Um espírito de renascimento intelectual e artístico floresceu na Europa. Nesse período de inovação e descoberta, surgiu uma nova raiz de pensadores que contestou as ideias medievais sobre a ordenação do Universo e a sociedade. Ocorre um crescente humanismo e a ascensão da ciência.A Igreja católica perdeu a hegemonia para o protestantismo e para as ideias que incentivavam a liberdade do homem frente às superstições religiosas. 

David ou Davi (1501-1504) é uma das esculturas 
mais famosas do artista renascentista Michelangelo. 
O trabalho retrata o herói bíblico com realismo 
anatômico impressionante, sendo considerada uma 
das mais importantes obras do Renascimento e do próprio autor.
        
  A principal característica da Filosofia Moderna é a preocupação com o homem racional e livre, com a mudança na política e com a esperança nas ciências empíricas. Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer e dominar a natureza. 

      
     Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo Moderno. 

René Descartes, pai da Filosofia Moderna




Os principais pensadores desse período foram: Maquiavel, Hobbes, Galileu, Descartes, Locke, Rousseau, Kant.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Filosofia e liberdade

O que é liberdade

Segundo o Dicionário de Filosofia, em sentido geral, o termo liberdade é a condição daquele que é livre; capacidade de agir por si próprio; autodeterminação; independência; autonomia.

A história desse conceito perpassa os estudos de épocas e pensadores diversos e registra a interpretação de doutrinas sociais bastante variadas. Podemos fazer uma distinção inicial entre o que se convencionou chamar de concepção “negativa” e “positiva” da liberdade. Em seu sentido negativo, liberdade significa a ausência de restrições ou de interferência. O sentido positivo de liberdade significa a posse de direitos, implicando o estabelecimento de um amplo âmbito de direitos civis, políticos e sociais. O crescimento da liberdade é concebido como uma conquista da cidadania.

No sentido político, a liberdade civil ou individual é o exercício de sua cidadania dentro dos limites da lei e respeitando os direitos dos outros. "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro" (Spencer).

Em um sentido ético, trata-se do direito de escolha pelo indivíduo de seu modo de agir, independentemente de qualquer determinação externa. "A liberdade consiste unicamente em que, ao afirmar ou negar, realizar ou enviar o que o entendimento nos prescreve, agimos de modo a sentir que, em nenhum momento, qualquer força exterior nos constrange" (Descartes).

A liberdade de pensamento, em seu sentido estrito, é inalienável, inquestionável. Reivindicar a liberdade de pensar significa lutar pela liberdade de exprimir o pensamento. Voltaire ilustra bem essa liberdade: "Não estou de acordo com o que você diz, mas lutarei até o fim para que você tenha o direito de dizê-lo."

T. Hobbes afirma que o “homem livre é aquele que não é impedido de fazer o que tem vontade, no que se refere às coisas e que pode fazer por sua força e capacidade”.

Kant diz que ser livre é ser autônomo, isto, é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.

No livro “A sociedade do espetáculo” (1997), Guy Debord, ao criticar a sociedade de consumo e o mercado, afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre optar entre duas ou mais coisas prontas, isto é, pré-determinadas por outros. Uma sociedade como a capitalista, onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir, impede que os indivíduos sejam livres na sua vida cotidiana. A vida cotidiana na sociedade capitalista, segundo Debord, se divide em tempo de trabalho e tempo de lazer. Assim, a sociedade da mercadoria faz da passividade (escolher, consumir) a liberdade ilusória que se deve buscar a todo o custo, enquanto que, de fato, como seres ativos, práticos (no trabalho, na produção), somos não livres.

De maneira geral, a liberdade de indivíduos ou grupos sempre sugere, ou tem a possibilidade de implicar, a limitação da liberdade de outros.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Epicuro e o prazer


      Epicuro (341-270 a.C.) um cidadão de família nobre de Atenas, fundou em 306 a.C. uma escola no jardim de uma grande casa. Segundo o epicurismo, a filosofia deve servir para libertar o homem do medo do destino, da morte, das divindades. Epicuro é representante de uma teoria filosófica chamada Hedonismo. A ética (modo de agir) que os epicuristas defendiam é que o supremo bem a ser buscado na vida é o prazer (em grego, hedon). Sobre a morte, ele enunciou um princípio ético: não há que temer a morte, pois com a morte nada sentimos e depois dela não mais existimos. Trata-se, então, de viver plenamente a vida.


Habitua-te a pensar que a morte nada mais é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é privação da sensibilidade. (EPICURO. Antologia de textos. 3ªed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. p. 13. (Os Pensadores)

No entanto, o epicurismo afirmava que a finalidade da vida é o prazer. Não um prazer obtido simplesmente, por meio dos instintos ou das paixões; e sim pela razão: o verdadeiro prazer estaria em superar todos os desejos, não ter necessidade de nada.
Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que s encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimento do corpo e de perturbações da alma.
(Antologia de textos, Epicuro)

            A doutrina epicurista afirmava ainda que valores como a amizade, o pensamento, a apreciação das belezas naturais e das artes são formas de obter essa satisfação. A felicidade – a paz espiritual – (ataraxia, em grego) seria alcançada quando o homem atingisse o autodomínio, isto é, se libertasse de todos os medos e desejos, agindo somente segundo sua vontade.

            É importante observar, contudo, que ao falar em prazer Epicuro não se referia ao prazer sensorial, mas ao prazer racional. Tratava-se do prazer do sábio o exercício da quietude da mente e da paz de espírito, o controle sobre as emoções e o domínio de si mesmo. Esse é o verdadeiro prazer, fonte da saúde e da felicidade. Entre os prazeres intelectuais, Epicuro incluía a amizade. Assim, sua escola, O Jardim, era uma comunidade na qual os discípulos compartilhavam a vida com o mestre, vivendo longe das agitações da cidade.

Eliminar ou moderar os desejos

Epicuro também dizia que quem espera muito sempre corre o risco de se decepcionar. Por isso, ele recomendava  que as pessoas eliminassem todos os desejos desnecessários e se permitissem apenas os naturais e necessários, mesmo assim com moderação. Isso significa fazer uma distinção entre os desejos, que, para o filósofo, podiam ser classificados em três tipos:
Naturais e necessários: como os desejos de comer, beber e dormir;
Naturais e desnecessários: como os desejos de comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais e caras e dormir em lençóis luxuosos;
Não naturais e desnecessários: como os desejos de riqueza, fama e poder.

Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um copo de água. Gozar o prazer eventual de um banquete ou de um cargo elevado não é proibido, mas não deveria ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade.

Devemos escolher os prazeres com prudência racional. Alguns são mais duradouros e encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes e a audição de música. Já outros, movidos pela explosão, são muito intensos e imediatos, mas perdem sua força com o passar do tempo. Esse discernimento nos possibilita realizar uma escolha prudente e racional dos prazeres, evitando aqueles que podem produzir infelicidade.

Em suma, o epicurismo constitui uma ética hedonista, colocando o “verdadeiro prazer”, o prazer do repouso do espírito, como o bem a ser almejado. Não se trata de uma busca desenfreada por bens materiais, mas do exercício paciente do pensamento como forma de produzir a tranquilidade da alma. A felicidade consiste, para Epicuro, em não sofrer no corpo, evitando as dores que podem ser evitadas, e não ter a alma perturbada. 

QUESTÕES PARA REFLETIR E CONSTRUIR O PENSAMENTO

1.  Explique o que significa a teoria hedonista.
2. Escreva exemplos de desejos naturais e necessários, e desejos não necessários e não naturais.
3. Escreva exemplos de prazeres que duram pouco e prazeres que duram mais.
4. Por que podemos dizer que a filosofia epicurista é uma ética?
5. Faça uma lista abrangente de seus desejos. depois procure classificá-los de acordo com a teoria de Epicuro. 
6. Você acredita que, se desenvolvesse o autocontrole e apenas desejasse o que é natural e necessário, sofreria menos ou seria mais feliz?


Referência Bibliográfica:

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
EPICURO. Antologia de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (col. Os Pensadores)
_________. O epicurismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Filosofia Medieval

 


Introdução

Podemos chamar de Filosofia Medieval a filosofia que se desenvolveu na Europa durante a Idade Média (entre os séculos V e XV). Como este período foi marcado por grande influência da Igreja Católica nas diversas áreas do conhecimento, os temas religiosos predominaram no campo filosófico.


Santo Agostinho
Pensamento Medieval


O pensamento na Idade Média foi muito influenciado pela Igreja Católica Desta forma, o teocentrismo (Deus é o centro) acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar durante o período medieval. De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo romano, o conhecimento e as ideias eram de origem divina. As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisas deviam ser buscadas nas palavras de Deus.



São Tomás de Aquino


Porém, a partir do século V até o século XIII, uma nova linha de pensamento ganha importância na Europa. Surge a escolástica, conjunto de ideias que visava unir a fé com o pensamento racional de Platão e Aristóteles. O principal representante desta linha de pensamento foi São Tomás de Aquino.

Características e principais questões debatidas e analisadas pelos filósofos medievais:
- Relação entre razão e fé;
- Existência e natureza de Deus;
- Fronteiras entre o conhecimento e a liberdade humana;

Principais estágios da Filosofia Medieval

Transição para o Mundo Cristão 

 Patrística (século V e VI)

Muitos pensadores deste período defendiam que a fé não deveria ficar subordinada a razão.
Porém, um importante filósofo cristão não seguiu este caminho. Santo Agostinho de Hipona (354 – 430) buscou a razão para justificar as crenças. Foi ele quem desenvolveu a ideia da interioridade, ou seja, o homem é dotado da consciência moral e do livre arbítrio.

Escolástica (século IX ao XIV)

Foi um movimento que pretendia usar os conhecimentos greco-romanos para entender e explicar a revelação religiosa do cristianismo.  As ideias dos filósofos gregos Platão e Aristóteles adquirem grande importância nesta fase. 
Os teólogos e filósofos cristãos começam a se preocupar em provar a existência da alma humana e de Deus.
Para os filósofos escolásticos a Igreja possuía um importante papel de conduzir os seres humanos à salvação.
No século XII, os conhecimentos passam a ser debatidos, armazenados e transmitidos de forma mais eficiente com o surgimento de várias universidades na Europa.

Principais representantes: 

Anselmo de Cantuária;
Alberto Magno;
São Tomás de Aquino;
John Duns Scotus;
Guilherme de Ockham.

Principais obras filosóficas da Idade Média
- Cidade de Deus (Santo Agostinho)
- Confissões (Santo Agostinho)
- Suma Teológica (São Tomás de Aquino)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O TEMPO E AS JABUTICABAS

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. 

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. 

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. 'O essencial faz a vida valer a pena.
Rubem Alves

domingo, 20 de abril de 2014




O mito de Édipo Rei


Na antiguidade, os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Afrodite, etc.) e semideuses, acreditando que os mesmos tinham forma humana. Por isso, a religião deles era conhecida como politeísta antropomórfica.

A distinção entre deuses e semideuses se dava através do fato de que os deuses eram imortais e provenientes da geração divina. Já os semideuses eram fruto da relação de um deus com uma mortal e não tinham a imortalidade.

Um mito clássico na História da Filosofia é o da tragédia “Édipo Rei”, que posteriormente, no século XIX, foi utilizado por Freud para falar do amor dos filhos para com os pais durante a infância. A história é seguinte:

Laio, rei da cidade de Tebas e casado com Jocasta, foi advertido pelo oráculo de que não poderia gerar filhos e, se esse mandamento fosse desobedecido, o mesmo seria morto pelo próprio filho, que se casaria com a mãe.

O rei de Tebas não acreditou e teve um filho com Jocasta. Depois se arrependeu do que havia feito e abandonou a criança numa montanha com os tornozelos furados para que ela morresse. A ferida que ficou no pé do menino é que deu origem ao nome Édipo, que significa “pés inchados”. O menino não morreu e foi encontrado por alguns pastores, que o levaram a Polibo, o rei de Corinto, que o criou como filho legítimo. Já adulto, Édipo, também foi até o oráculo de Delfos para saber o seu destino. O oráculo disse que o seu destino era matar o pai e se casar com a mãe. Espantado, ele deixou Corinto e foi em direção a Tebas. No meio do caminho, encontrou-se com Laio que pediu para que ele abrisse caminho para passar. Édipo não atendeu ao pedido do rei e lutou com ele até matá-lo.

Sem saber que havia matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. No caminho, encontrou-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher, que atormentava o povo tebano, pois lançava enigmas e devorava quem não os decifrasse. O enigma proposto pela esfinge era o seguinte: Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde? Ele disse que era o homem, pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos, ao meio-dia (idade adulta) anda sobre dois pés e à tarde (velhice) precisa das duas pernas e de uma bengala. A Esfinge ficou furiosa por ter sido decifrada e se matou.

O povo de Tebas saudou Édipo como seu novo rei, e entregou-lhe Jocasta como esposa. Depois disso, uma violenta peste atingiu a cidade e Édipo foi consultar o oráculo, que respondeu que a peste não teria fim enquanto o assassino de Laio não fosse castigado. Ao longo das investigações, a verdade foi esclarecida e Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se. Quando no final Édipo se cega, diz:

    Foi o deus Apolo que me quis submeter a esta amargura! Porém a mão que golpeou meus olhos não foi a de ninguém, senão a minha: que mais pudera desejar eu ver, se a vista só me dava desprazer?

A tentativa de reflexão e de autoconhecimento retrata o logos nascente (a razão). Daí em diante a filosofia representará o esforço da razão em compreender o mundo e orientar a ação.


O COMPLEXO DE ÉDIPO

No século XIX, Sigmund Freud fez uma reinterpretarão do mito de Édipo, denominada como o Complexo de Édipo. Segundo Freud, o Complexo de Édipo é um conjunto de desejos amorosos e hostis, que uma criança experimenta em relação aos seus pais. Em sua forma positiva, o complexo é semelhante à história do mito, ou seja, desejo da morte do rival que é a pessoa do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Em sua forma negativa, apresenta-se de forma inversa, ou seja, raiva do sexo oposto e amor pelo mesmo sexo.

De acordo com o pensamento freudiano, o Complexo de Édipo é vivido entre os três e os cinco anos e desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Ele ainda ressalta a influência do comportamento dos pais na vida da criança.



O mito de Narciso

Estudar os mitos é de extrema importância pois neles se expressa o conhecimento atemporal. Através de seus símbolos, somos levados a uma jornada arquetípica e que muitas vezes tem mais realidade e atualidade que os fatos históricos, pois dão origem a eles. 

Vamos fazer uma análise psicológica do mito de Narciso, personagem grego que nasceu com um dom que se converteu em maldição: sua beleza.

Diz-se que ao nascer, os sábios orientaram sua mãe que jamais deveria deixar o menino olhar sua imagem em um espelho, pois o choque ao ver sua beleza seria imprevisível. Assim viveu o garoto, até que um dia, durante uma caçada em meio ao bosque, parou para tomar água em um lago que ali havia. Ao ver sua imagem refletida nas águas serenas do lago, tal como um espelho, viu imagem de tamanha beleza que tão logo a contemplou já se apaixonou e então, perdido de amor, tentava abraçar a imagem mas sempre que tocava o lago ela se desfazia em suas mãos.

Depois de muito tentar, percebeu que tratava-se de um amor impossível, já sem esperanças, decidiu matar-se ali mesmo, à beira do lago. E do sangue que regou a terra nasceram flores brancas, as quais se deu o nome do jovem: narciso.

Em geral, é consenso interpretar o mito como a história de uma pessoa enamorada de si mesma que cai no erro de confundir-se com sua imagem no lago. Muito se fala dos narcisistas, pessoas que se amam mais do que amam a qualquer outra pessoa. Também é consensual entender que a história terminou em tragédia. Porém, à luz da simbologia universal, utilizando-se das analogias presentes em todos os mitos, podemos fazer uma nova leitura desta narrativa e perceber nela algo mais, que tal qual um farol nos faz olhar na direção de nós mesmos.

De fato, Narciso é uma pessoa enamorada de si mesma e de fato, caiu no erro de confundir-se com sua própria imagem no lago. O detalhe é que esse mito não fala de um garoto em particular, mas sim de uma característica típica de todo ser humano, seja bonito ou feio, novo ou velho. Para entender isso precisamos antes entender o que é a paixão. A paixão é uma força de atração, um magnetismo que em realidade nós projetamos sobre o objeto do encantamento. As coisas pelas quais nos apaixonamos muitas vezes não tem todo aquele brilho, mas nós depositamos nelas todo o brilho do mundo (nosso mundo) e então nos sentimos fatalmente atraídos por elas. Na verdade, a pessoa apaixonada é a grande responsável por isso, pois ela é quem se enamora e ao mesmo tempo a fonte geradora de todo magnetismo depositado.

Até aqui, então, vemos que todos somos Narcisos, sempre buscando um lago para refletir nossa própria imagem e dizer “que coisa linda!”.

Porém, no mito, Narciso não fica só nisso por muito tempo. Tão logo percebe que aquela paixão é impossível (é ilusória) ele resolve morrer. Nos mitos, a morte associa-se à transformação, a deixar de ser o que se é. E isso vem confirmado logo em seguida, quando de seu sangue brotam flores brancas, as quais recebem o seu nome. As flores, nos mitos, geralmente representam as virtudes da Alma ou o resultado da transformação. São brancas porque fazem a percepção retornar à pureza, ao original, ao que realmente é.

Enfim, basta pensar que se uma pessoa está usando óculos com lentes vermelhas, tudo que ela enxergar vai ter uma tonalidade vermelha. Isso nos mostra o mito de Narciso: tudo que enxergamos em um primeiro momento tende a ser uma projeção de nosso mundo interior, que personificamos nas pessoas e acontecimentos à nossa volta.

Para concluir, Narciso (agora podemos chamar de o herói Narciso) mostra que é necessário matar a si mesmo, no sentido de renunciar a essa visão distorcida, egoísta, tendenciosa, para que então surja a visão adequada, real, “pura”. E, para completar essa jornada de transformação, precisamos aprender a olhar para dentro e enxergar essas pequenas distorções da realidade.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Mito da Caverna: uma das principais alegorias da história da Filosofia

O que é o mito 


O Mito da Caverna, também conhecido como “Alegoria da Caverna” é uma passagem do livro “A República” do filósofo grego Platão. É mais uma alegoria do que propriamente um mito. É considerada uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria platônica: como, através do conhecimento, é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da razão). 


O Mito da Caverna

O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.

Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.


O que Platão quis dizer com o mito
         Platão quis dizer que, para chegar ao conhecimento verdadeiro é preciso sair das opiniões do senso comum, refletir criticamente, e enxergar as coisas na sua essência, como verdadeiramente são.

  Isso é filosofar.


Os seres humanos tem uma visão distorcida da realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza o mundo, pois nos apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando saímos da caverna.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Cronos nos devora...

Representação de Cronos e Reia num baixo-relevo romano.
        Cronos simboliza o tempo e é a divindade suprema da segunda geração de deuses da mitologia grega. Filho de Urano, o Céu estrelado, e Gaia, a Terra, é o mais jovem dos Titãs. A pedido de sua mãe se tornou senhor do céu castrando o pai com um golpe de foice.
       A partir de então, o mundo foi governado pela linhagem dos Titãs que, segundo Hesíodo, constituía a segunda geração divina. Foi durante o reinado de Cronos que a humanidade (recém-nascida) viveu a sua "Idade de Ouro".
      Cronos casou com a sua irmã Reia, que lhe deu seis filhos (os Crónidas): três mulheres, Héstia, Deméter e Hera e três rapazes, Hades, Posseidon e Zeus. 
      Como tinha medo de ser destronado, Cronos engolia os filhos ao nascerem. Comeu todos exceto Zeus, Hades e Poseidon, que Reia conseguiu salvar enganando Cronos enrolando uma pedra em um pano, a qual ele engoliu sem perceber a troca.
   Quando Zeus cresceu, resolveu vingar-se de seu pai, solicitando para esse feito o apoio de Métis - a Prudência - filha do Titã Oceano. Esta ofereceu a Cronos uma poção mágica, que o fez vomitar os filhos que tinha devorado.
     Então Zeus tornou senhor do céu e divindade suprema da terceira geração de deuses da Mitologia Grega ao banir os Titãs para o Tártaro e afastou o pai do trono, e segundo as palavras de Homero prendeu-o com correntes no mundo subterrâneo, onde foi encontrado, após dez anos de luta encarniçada, pelos seus irmãos, os Titãs, que tinham pensado poder reconquistar o poder de Zeus e dos deuses do Olimpo.
    Na mitologia, Cronos devorava seus filhos. Hoje o tempo nos devora. Por isso, temos medo do tempo, ou melhor, do passar do tempo. O que nos espera no futuro? Por quanto tempo estaremos aqui?

Segue a baixo uma interessante reflexão sobre “o medo do tempo”.

O medo do tempo

      O tempo é um assunto filosófico. Mas fugindo um pouco da filosofia e entrando na nossa realidade, o tempo é em alguns casos nosso amigo, noutro nosso inimigo. Sempre dizem que o tempo cura tudo, realmente, ele cura, mas o mesmo tempo que cura, é o tempo que nos leva, aí o desejo do tempo passar muda para o desejo do tempo parar. 
    O amor não correspondido, que dói, machuca, o tempo leva. O amor gostoso, correspondido, sonhado, vivido, o tempo também leva, ou leva quem se ama, ou nos leva. O tempo me dá medo. Por isso gosto do agora, não quero nada pra depois, não sei o que o tempo fará do meu depois, preciso do hoje. 
     Tento acabar com a dor com algo imediato, não deixo o tempo levar, não gosto de prolongar a dor, evito o sofrimento, causo a felicidade. Tenho medo do tempo não me deixar viver no ponto certo, na medida certa, do que eu acho certo.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Cicuta mortal

Os atenienses não eram estranhos apenas na hora de matar suas vacas. eles também matavam uns aos outros de modo esquisito. 

Após perderem a guerra contra Esparta, os atenienses procuraram alguém para culpar. Eles acusaram Sócrates, o velho professor. Sendo um sujeito muito avançado, ele não acreditava nos velhos deuses. (É mais ou menos como o seu professor dizendo para você não acreditar no Papai Noel). Em Atenas isso era punido com a morte.

A Morte de Sócrates é uma pintura de 1787 do pintor
francês Jacques-Louis David. Representa a cena de
morte do filósofo grego Sócrates
Mas os atenienses não mataram o velho mestre. Eles ordenaram que Sócrates se matasse com veneno! Platão descreve a terrível cena:

"O homem que deveria fornecer o veneno entrou com a mistura pronta numa xícara. Ao vê-lo, Sócrates disse: 
- Bom homem, você entende dessas coisas. O que eu devo fazer? 
- Apenas beba e ande um pouco, até sentir suas pernas pesadas. Então deite-se. Ele age muito depressa. 
O homem deu a xícara a Sócrates. O mestre pegou-a em suas mãos, sem tremer ou mesmo empalidecer. Apenas olhou para o homem e perguntou: 
- Posso fazer um brinde? 
- Pode - Respondeu o homem. 
- Então eu bebo aos deuses e peço que sejamos tão felizes após a morte quanto fomos em vida. 
Em seguida Sócrates bebeu o veneno. Quando o vimos bebendo, eu cobri o rosto e chorei - não por ele, mas por mim, estava perdendo um grande amigo. Sócrates olhou para nós e disse, severo: 
- Acredito que uma pessoa tenha o direito de morrer em silêncio. Então controlem-se e fiquem quietos. 
- Paramos de chorar. O mestre deitou. O homem do veneno apertou seu pé. Sócrates nada sentiu. O homem disse que, quando o veneno alcançasse o coração, estaria feito. 
Esse foi o final de nosso amigo. O melhor, mais sábio e mais honesto ser humano que conheci". 
Que herói! Provavelmente o único professor de filosofia a morrer de maneira tão nobre. Será que seu professor seria tão corajoso?
Infelizmente você nunca terá a oportunidade de pô-lo à prova... farmácias não vendem cicuta.

(Referência Bibliográfica: Terry Deary. Grandes Gregos - Saber Horrível. Melhoramentos. São Paulo. 2013)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Epicuro e a Felicidade

A felicidade. 
Para Epicuro (341 - 270 a.C.),  a felicidade consiste no prazer. Todos os seres humanos, por sua natureza, necessitam do prazer, da mesma forma que devem fugir da dor. O prazer é o fim último do homem. Porém, o prazer, para ele, não consiste naquilo que imaginamos comumente. Uma vida sem limites e que satisfaça todas as nossas necessidades, não é o modelo de vida prazerosa pensada por Epicuro. Para ele, o prazer consiste numa vida tranquila e em harmonia com o cosmo. 

Um prazer estável, não dinâmico. Ao contrário de muitas visões, os epicuristas não pensam no prazer como satisfação das necessidades, mas na inexistência destas. Não se trata, portanto, de hedonismo, mas de eudemonismo. Não se trata do gozo do prazer, mas da ausência de dor, do não sofrer. Ataraxia: ausência de qualquer perturbação. 

Receitas da vida feliz e do prazer:

A sabedoria é fundamental, pois faz com que sejam escolhidos e vivenciados os verdadeiros prazeres da vida. A sabedoria deve organizar as vontades, buscando a tranquilidade da alma. O sábio é quem pode moderar os próprios desejos. A vida feliz se associa à satisfação moderada dos desejos naturais e necessários, e à negação dos não necessários e não naturais. Tudo o que não é natural e necessário tende a perturbar a nossa tranquilidade, pois pode nos trazer dor maior que o prazer proporcionado. Os prazeres do espírito são superiores aos do corpo, pois não são momentâneos e não provocam consequências incômodas. . É sábio e feliz   quem domina seus desejos e suas paixões. Assim, a vida reflexiva e que valoriza as coisas da alma, ao lado de pessoas amigas e que compartilhem esse exercício de elevação intelectual e espiritual conosco, é a mais feliz que podemos ter. Diz ele: “antes de buscar o que comerás e beberás, busque com quem comerá e beberás”. 
Retirado do site: www.tvescola.mec.gov.br

domingo, 13 de abril de 2014

Sapere aude



Sobre o blog

Sapere aude é um lema latino que significa "ouse saber" ou "atreva-se a saber", por vezes traduzido como "tenha a coragem de usar o seu próprio entendimento".