terça-feira, 2 de junho de 2020

ARISTÓTELES - Bases do pensamento lógico e científico


Biografia

Aristóteles, Escola de Atenas
                Continuando nossa viagem pela História da Filosofia, vamos agora conhecer um pouco sobre outro importante pensador. Nascido em Estagira (por isso era chamado de “O Estagirita”), na Macedônia, Aristóteles (384-322 a.C.) foi, ao lado de Platão, um dos mais expressivos filósofos gregos da Antiguidade. Há informações de que teria escrito mais de uma centena de obras sobre os mais variados temas, das quais restam apenas 47. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe uma contribuição que impactou a história do pensamento ocidental.

                Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, provavelmente herdou do pai o interesse pelas ciências naturais. Aos 18 anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de 20 anos. Com a morte de Platão em 347 a.C., não pode assumir a direção da Academia por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.

                Decepcionado, deixou a Academia e partiu para a Ásia Menor, onde foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho, Alexandre, que posteriormente foi um importante governante do império macedônico a partir de 340 a.C.
Os Peripatéticos
                Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundado sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu, onde ensinou por aproximadamente 12 anos. Seus discípulos ficaram conhecidos como peripatéticos, pois o filósofo tinha o hábito de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores. (peripatético significa ambulante, itinerante, que anda).

                Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio correto.

Método indutivo

                Para Aristóteles a ciência deveria partir da realidade sensorial para desvendar a constituição essencial dos seres. Isto é, da experiência concreta (empírica). Em outras palavras, a partir da existência do ser individual, devemos atingir sua essência, seguindo um processo de conhecimento que caminharia do individual e específico para o universal genérico, isso é o método indutivo. O conceito escola, por exemplo, é o resultado da observação das diferentes instituições às quais se atribuiu o nome escola. Somente dessa maneira o conceito escola pode ter sentido universal. É por meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, conceituais, de âmbito universal.

Matéria e forma

                Aristóteles era um grande observador da natureza, considerado por muito o primeiro biólogo que existiu. Para ele, as coisas são o que são em sua própria natureza, ou seja, o ser verdadeiro deve ser imanente. Todas as coisas estariam constituídas de dois princípios inseparáveis:

- Matéria (hylé, em grego) – o princípio indeterminado dos seres, mas que é determinável pela forma. Exemplo: madeira;
- Forma (morphé, em grego) – o princípio determinado em si próprio, mas que é determinante em relação à matéria. Exemplo: cadeira de madeira.

Assim, tudo o que existe é composto de matéria e forma, daí o nome hilemorfismo (matéria + forma) para designar essa doutrina. Note que é a forma que faz as coisas serem o que são. Por exemplo, uma cadeira de madeira só é reconhecida como cadeira por causa da sua forma, se não fosse a forma seria apenas alguns pedaços de madeira (matéria). Outro exemplo: um anel de ouro é derretido para converter-se em uma corrente de ouro, muda-se a forma (de anel para corrente), mas mantém-se a matéria (ouro).

Quatro causa dos seres

                Observe que, quando falamos de uma semente que se transforma em árvore e em um anel que se converte em corrente, estamos nos referindo a duas classes distintas de seres. No primeiro caso, temos um ser natural, no qual a mudança (ou movimento) ocorre por um princípio interno, intrínseco, conforme explicou Aristóteles. No segundo caso, por sua vez, temos um ser artificial, cuja transformação (ou movimento) se dá por um princípio externo, extrínseco.

                Em outras palavras, os seres naturais modificam-se, basicamente, de acordo com sua própria natureza, enquanto os seres artificiais dependem em boa medida de elementos externos para que isso ocorra.

                Há, portanto, princípios intrínsecos e extrínsecos que levam os seres ao movimento, à passagem da potência (aquilo que o ser ainda não é e o que pode vir a ser, exemplo: semente) para o ato (aquilo que o ser já é, exemplo: árvore). Esses princípios são o que o filósofo chamou de causas.

                Aristóteles distinguiu quatro tipos de causas fundamentais:

- Causa material: refere-se à matéria de que é feita uma coisa. Exemplo: a madeira utilizada na confecção de uma cadeira.
- Causa formal: refere-se à forma, à natureza específica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”. Exemplo: a forma de uma cadeira, que é diferente de uma mesa.
- Causa eficiente: refere-se ao agente, àquele que produz diretamente a coisa, transformando a matéria tendo em vista uma forma. Exemplo: o marceneiro que faz a cadeira.
- Causa final: refere-se ao objetivo, à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa. Exemplo: a cadeira serve para as pessoas se sentar.

                Nos seres artificiais (como a cadeira do nosso exemplo), todas essas causas intervêm, sendo as duas últimas extrínsecas a esses seres.

                Nos seres naturais, a causa eficiente não ocorre, pois eles podem surgir e ser o que são por natureza, isto é, fazem-se por si mesmos, não dependendo de uma causa externa.

Assim, as diferentes relações entre as quatro causas explicam tudo o que existe, o modo como existe e se altera, e o fim ou motivo para o qual existe.

Aristóteles, como vimos tem uma vasta contribuição para o saber. Escreveu, dentre outros temas, sobre ética, política e lógica, mas esses são assuntos que trataremos em outras aulas.


QUESTÕES PARA O ESTUDO, A REFLEXÃO E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
(Responder no Caderno de Filosofia)

1) Como ficou conhecida a escola fundada por Aristóteles e por que seus discípulos eram chamados de peripatético?
2) Explique o que é o método indutivo, utilizado por Aristóteles.
3) Dê um exemplo diferente do que aparece no texto para explicar o hilemorfismo, princípio da matéria e forma.
4) Explique como ocorrem as mudanças nos seres naturais e nos seres artificiais.
5) Utilize o exemplo de um “lápis” para explicar as quatro causas dos seres, conforme Aristóteles.


Referência Bibliográfica:
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002. (p.60-63)
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.227-230)

Um comentário:

  1. Se Aristóteles estivesse vivo hoje diria o seguinte: "tranque o portão de saída do Brasil e joguem a chave no mar, pra que não o mundo não seja contaminado pela ignorância dos brasileiros.

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