Há
diferentes formas de conhecer a realidade. Nós podemos acessá-la por meio da
ciência, do mito, da filosofia, da religião e dos produtos da cultura. No
extenso panorama do conhecimento, produzido historicamente pela humanidade, a
Filosofia visita o centro e todos os cantos e recantos tidos como habitados e
conhecidos, para percebê-los ainda carentes de outros “olhares”, de outras
perspectivas. Assim, a Filosofia é a experiência do pensamento e,
por sua história, é o testemunho de revoluções, contestações e certezas (ainda
que provisórias), conhecedora dos valores e das narrativas justificadoras
das formas de ser e viver.
A
Filosofia
A
Filosofia busca lançar um olhar crítico, reflexivo e questionador, indo
ao encontro dos fundamentos, da compreensão, do porquê, das
diversas realidades da vida humana, como os mitos, a cultura, a religião e a
ciência. É olhar de maneira diferente. A filosofia, em sua origem, é o amor
pelo saber. A informação é saber que uma coisa aconteceu; o conhecimento
é saber por que essa coisa aconteceu; a sabedoria é saber o que fazer
com a informação e o conhecimento. Essa é a tarefa da filosofia: produzir sabedoria.
O
ser humano se faz presente nos diferentes ambientes do planeta. Pode voar,
cruzar os mares, habitar o deserto e até regiões alagadas. Trata-se do maior
“predador”, mesmo não sendo naturalmente o mais forte. Pode enfrentar mamíferos
maiores que ele e tem condições de se defender de organismos que não podem ser
vistos a olho nu. Pode comunicar ideias e experiências para as gerações que
ainda não nasceram e ter contato com o pensamento daqueles que já não habitam o
mundo dos vivos. Mas como isso se tornou possível?
O Mito
O
mito é um tipo de história ou estilo literário de difícil definição. O mito se
caracteriza como uma explicação fundamental, uma narrativa,
responsável pela disseminação de conhecimentos e valores. Por ser de
natureza diversa da Filosofia e da Ciência, o mito não carece de validação
e, desta forma, não pode ser questionado. Ele não tem um único autor,
pois é construído e reconstruído socialmente, podendo apresentar mais de uma
versão.
Se
você quiser conhecer uma narrativa mitológica, que traz uma explicação sobre
como o homem se sobressaiu aos demais animais, a partir do domínio do fogo,
leia no seu Caderno do Aluno, 1ª Série, 2º Bimestre, o mito de Prometeu e
Epimeteu, reproduzido na p. 81 e 82. Ou nesse endereço eletrônico:
Todas
as culturas trazem narrativas (mitos) de criação, por exemplo, que procuram
explicar a dimensão do homem como um ser ao mesmo tempo da natureza e da
cultura. A importância das narrativas mitológicas está em compreendermos a
cultura de diferentes povos e, assim, compreender as relações entre natureza e
cultura.
As
narrativas míticas trazem os fundamentos das religiões, dos saberes
e da própria história; revelam o princípio, o germe da tradição
e, dessa forma, a mantém. A tradição é mantida pelos mitos, além de repetir e
atualizar a ação dos precursores. Dessa forma, o mito conta a história
primeira que ensina aos homens como devem fazer para viver neste mundo de
acordo com os saberes de fundação (Eliade, 1972, p. 13). A narrativa mítica
busca revelar as origens de ações humanas ou da natureza, o que possibilita
entender o sentido de certas práticas. Em geral, os mitos são transmitidos de
geração a geração, e as suas narrativas de origem favorecem a coesão simbólica.
A identidade étnica é reforçada à medida que os indivíduos compartilham as
narrativas de criação e as práticas decorrentes destas. Assim, as narrativas
míticas contribuem com elementos fundamentais para a constituição da cultura,
e esta, por sua vez, é constituída por elementos que se relacionam de forma
intrínseca com os mitos, tais como: conhecimentos, crenças, normas, valores e
símbolos. (Para saber mais, leia a p. 83 e 84 do Caderno do Aluno).
A Cultura
“Por
que tendemos a forçar o outro a ver o mundo a partir do nosso olhar?” Se a
cultura define um modo de se ver o mundo, então cada um vê o mundo através de
sua cultura. Dessa forma, comportamentos, ideias e ações são avaliadas como
boas ou ruins, corretas e erradas, bonitas ou feias, úteis ou inúteis,
agradáveis ou desagradáveis, morais ou imorais, de acordo com a cultura de cada
um. Assim, tendemos a considerar o modo de vida expresso pela nossa cultura
como o mais “correto”. Mas o que acontece quando, seguindo este encadeamento de
ideias, uma cultura se depara com outra? Nesse momento, é fundamental uma
atitude de alteridade. Mas o que é alteridade?
Alteridade
é reconhecer o diferente e respeitar aqueles que não vivem a vida como vivemos,
que não pensam como pensamos e não querem o que nós queremos.
A
alteridade opõe-se à ideia de etnocentrismo, que é quando consideramos a nossa
cultura o centro, a mais importante, desprezando e inferiorizando todas as
outras. A postura etnocêntrica não é a melhor maneira de nos relacionarmos com
os que têm uma cultura diferente da nossa.
A Ciência
Ciência
só é ciência cercada pela margem da incerteza, da dúvida. Todo o tempo, a
ciência põem em dúvida o já sabido. Ainda que acumulativo, o conhecimento
científico é provisório e relativo, isto é, pode mudar. Refletir de forma
crítica sobre a ciência é pensar sobre as características do conhecimento
científico como verdade absoluta. Mas o que é o conhecimento científico?
É
um conhecimento sistemático baseado em experimentos, métodos e
teorias. A Filosofia da Ciência é uma reflexão sobre o processo de
construção do saber científico, analisando seus métodos e princípios. A
Filosofia da Ciência problematiza o conhecimento científico como infalível.
Quando alguém fala que “está cientificamente provado”, ninguém questiona. Assim
cria-se o “mito do cientificismo”, em que a ciência explica tudo,
como se ela fosse dona de uma verdade absoluta e universal. Se está
cientificamente provado, significa que não pode mudar no futuro? Não é bem
assim.
Algumas
teorias científicas serviam numa determinada época e foram falseadas ou superadas
posteriormente, sendo aperfeiçoadas. A Filosofia da Ciência trata disso. A
ciência produz uma verdade transitória, que pode se modificar e se reconstruir.
Por exemplo: acreditava-se que só era possível encontrar vida dentro de uma
determinada faixa de temperatura, até que foi encontrada uma bactéria que vivia
numa temperatura bem abaixo do limite mínimo considerado até então. Portanto,
aquele paradigma (referência) entrou em crise, e foi preciso construir outro.
A
ciência não pode ser dogmática, senão ela vira uma religião. O dogma é uma
verdade inquestionável. Portanto, a ciência não pode ser inquestionável, visto
que está sempre mudando, se aperfeiçoando, se superando, deve estar aberta ao
novo.
A Religião
A religião tem como intenção aproximar o
ser humano do Sagrado, re-ligar. Ela é universal, isso quer dizer que
todos os povos e culturas têm suas religiões. A religião é diversa, pois não
temos apenas uma religião, mas muitas maneiras diferentes de o ser humano se
relacionar com o Sagrado. Ela também é sacralizadora, isto é, estabelece
o que é sagrado e o que é profano. Profano não é negativo, mas aquilo que é
comum, não-sagrado. Sagrado significa “separado”. Sacralizar é tirar do comum.
Um símbolo, por exemplo, pode ser sagrado para uma religião e não para outra.
A religião pode ser vista de um
ponto de vista positivo ou negativo. Positivo quando é um elemento de
integração, unidade entre as pessoas, conforto, regulação moral e intervenção
em causas humanitárias; negativo quando é instrumento de dominação e
formatação social. A ciência tem respostas a questões que a religião não
possui. E o contrário também ocorre: a religião tem respostas para questões que
a ciência não possui.
Para
aprofundar, responda em seu caderno de Filosofia
1- Conforme o
texto lido, resuma como é o tipo de conhecimento próprio da Filosofia.
2- É correto
afirmar que a narrativa mitológica é uma mentira? Explique.
3- Explique por
que a alteridade é uma atitude de empatia e respeito cultural.
4- Por que
afirmar “está provado cientificamente”, pode ser perigoso?
5- O que
significa dizer que a religião pode ter duas dimensões, uma positiva e outra
negativa?
Referência
Bibliográfica:
São Paulo Faz
Escola. Caderno do Aluno. 1ª Série. Ensino Médio. 2º Bimestre. 2020. p. 81-89.
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