sexta-feira, 27 de março de 2020

Os Sofistas


Contexto Histórico

No século V a.C., Atenas vivia o auge de um regime de governo no qual os homens livres decidiam os interesses comuns a todos os cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam em discussões públicas como a cidade deveria ser administrada. Eram considerados cidadãos os homens livres com alguma propriedade e que não fossem estrangeiros. Esse regime de governo era a democracia ateniense que, embora não garantisse os mesmos direitos para todas as pessoas, representou uma importante mudança no modo de ver o mundo, pois tinha como fundamento a ideia de que o homem tem a soberania sobre o seu destino.

As propostas que os cidadãos atenienses defendiam publicamente eram feitas por meio de discursos proferidos na ágora (praça pública). Para obter a aprovação da maioria, esses discursos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos, capazes de convencer os demais. Falar bem e de modo convincente era considerado, portanto, um dom muito valioso.

Por isso, havia cidadãos que procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar, a fim de melhor convencer os demais. A necessidade de se expressar bem, juntamente com a importância que foi dada ao indivíduo, naquele período concebido como o senhor do seu destino, favoreceu o surgimento de um grupo, chamados sofistas (palavra de origem grega que quer dizer “grande mestre ou sábio”, algo como “superssábios”), que dominavam a arte da oratória, isto é, o uso habilidoso da palavra. Esses "filósofos" eram originários de diferentes cidades e viajavam pelas pólis (cidades-Estado) governadas da mesma forma democrática, especialmente Atenas, onde discursavam em público e ensinavam sua arte em troca de pagamento.

Quem foram os sofistas?

Os sofistas, entretanto, não foram somente professores, mas também estabeleceram uma corrente de pensamento própria. Sua preocupação filosófica se voltava para o homem e a vida em sociedade; as questões que ocupavam os pré-socráticos, dirigidas para a natureza e a essência do universo, foram colocadas em segundo plano.

Alguns pensadores sofistas foram Górgias (483-373 a.C.), Hípias (século V a.C.) e Protágoras (485-410 a.C.), a quem se atribuiu uma famosa frase: “O homem é a medida de todas as coisas”. Para os sofistas, tudo deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e de acordo com a forma como vê a realidade social.

Essas características dos ensinamentos dos sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre as coisas. Para o relativismo não há uma verdade única, absoluta. Assim, a “verdade”, seria algo relativo ao indivíduo, ao momento histórico, às circunstancias, podendo mudar frequentemente, conforme o interesse.

Sofistas: heróis ou vilões? 

É importante compreender que o termo sofista teve originalmente um significado positivo. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de “enganador” ou “impostor”. Desde então, considerou-se a sofística uma arte de manipular raciocínios, produzir o falso, iludir os ouvintes, sem nenhum amor pela verdade. Os sofistas pareciam não buscar a Aletheia (a verdade); contentavam-se com pseudos (o falso).

Por isso hoje se utiliza a palavra sofisma para designar um raciocínio aparentemente correto, mas que na realidade é falso, geralmente formulado com o objetivo de enganar alguém.


Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo o conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores seriam subjetivos (pessoais) assim como impediam o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantisse os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Foi nesse contexto que surgiu um pensador cuja doutrina contrariava profundamente à sofística: estamos falando de Sócrates. Mas esta é uma outra aula...

PARA REFLETIR, RESPONDER  E CONSTRUIR O PENSAMENTO...

1.      Caracterize os sofistas e o que favoreceu seu surgimento.
2.      Em contraste com o período pré-socrático, marcado por reflexões cosmológicas, qual foi a grande preocupação do período que se inicia com os sofistas?
3.      Se todos os cidadãos buscassem somente os seus interesses individuais, conforme recomendava a sofística, o que aconteceria na pólis em termos de sua organização?
4.      O que significaria a vida pública para um homem que estivesse apenas interessado em seu próprio proveito?
5.      Ao longo da história os sofistas foram considerados heróis ou vilões? Justifique.
6.      Quem, hoje, poderia ser chamado de sofista? Dê sua opinião e cite exemplos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.


quinta-feira, 26 de março de 2020

Aristóteles: Somos todos políticos

Acrópole de Atenas
O Homem não vive sem a Pólis

Aristóteles (384-322 a.C.) dedicou boa parte de sua obra ao estudo de como o ser humano pode ser feliz vivendo em sociedade. “O homem”, afirma Aristóteles em A Política, “é naturalmente um animal político”. Político deve ser entendido como “participante da polis”. Em outras palavras, para esse filósofo um indivíduo vivendo sozinho é inconcebível: um homem absolutamente solitário ou auto-suficiente deixaria de ser homem – seria um deus ou um bruto, nas palavras de Aristóteles – ou simplesmente não sobreviveria.

A obra A Política é considerada um dos primeiros tratados sistemáticos sobre a arte e a ciência de governar a polis e, portanto, da filosofia política. Foi devido a essa obra clássica que o termo política se firmou nas línguas ocidentais.

Política como continuação da ética

Aristóteles entendia a política como uma “continuação” da ética, só que aplicada à vida pública. Assim, depois de refletir, em Ética a Nicômaco, sobre o modo de vida que conduz à felicidade humana, o filósofo investigou em A Política as instituições públicas e as formas de governo capazes de propiciar uma maneira melhor de viver em sociedade. Aristóteles considerava essa investigação fundamental, pois, para ele, a cidade (a pólis) constitui uma criação natural e o ser humano também é, por natureza, um animal social e político.

O conceito grego de política como esfera de realização do bem comum tornou-se clássico e permanece até os nossos dias, mesmo que seja como um ideal a ser alcançado.

Aristóteles também entende que a cidade tem precedência (vem antes) sobre cada um dos indivíduos, pois, isoladamente, o indivíduo não é autossuficiente, e a falta de um indivíduo não destrói a cidade. Assim, afirmou: “o todo deve necessariamente ter precedência sobre as partes” (A Política, p.15).

É por isso que para o filósofo a política é uma continuidade da ética, ou melhor, a ética é entendida como uma parte da política. A ética dirige-se ao bem individual, enquanto a política volta-se para o bem comum, constituindo-se também em meio necessário ao bem-estar pessoal.

A Pólis deve promover o bem comum

A pólis era para Aristóteles a melhor organização social possível, desde que fosse regida por critérios justos, que visassem ao bem comum. Para entender como o filósofo julgava ser possível determinar esses critérios, ele classificava a ética e a política como ciências práticas, que tinham a finalidade de aperfeiçoar o ser humano. A aplicação dessas ciências leva o desenvolvimento do ser humano na direção de uma existência melhor. 

O filósofo definia a ética como a ciência que trata do caráter e da conduta dos indivíduos, e a política como os estudos que regem a existência dos homens vivendo numa comunidade, no caso a pólis. O homem feliz era aquele que praticava incessantemente a virtude, sempre aperfeiçoando o seu caráter. Esse seria o campo específico da ética. No entanto, a conduta justa do indivíduo só teria sentido dentro da vida em sociedade.

Por isso, a política seria tão importante: para que o indivíduo possa ser virtuoso (ético e, portanto, feliz), é necessário haver uma organização política favorável para que essa finalidade seja atingida. Qual é ela? Para Aristóteles, é a pólis governada democraticamente, na qual todos os cidadãos façam parte de uma grande assembléia que governa a cidade, determinando seus destinos e redigindo leis que garantam uma existência digna para seus habitantes. 

É interessante relatar, finalmente, que esse filósofo estimava que, por meio da política, todos os homens livres teriam iguais condições de distinguir o que é bom, através do diálogo com os outros e, assim, determinar as normas mais adequadas para a vida em sociedade.

REFLITA E RESPONDA:
1.      A base do pensamento político de Aristóteles é a afirmação de que o ser humano é por natureza um animal político. Como ele chegou a tal conclusão?
2.      Por que a política seria uma continuação da ética, segundo Aristóteles? Explique.
3.  Conforme o pensamento aristotélico, você considera ultrapassada a idéia de política como realização do bem comum ou esse propósito ideal ainda é válido hoje? Dê sua opinião.
4.    Aristóteles é um filósofo que valoriza a democracia. Que parte do texto pode ser usada para justificar essa ideia?
5.   Faça uma relação entre ética, política e felicidade, conforme a filosofia aristotélica.



Referências Bibliográficas:

ARISTÓTELES. A Política. Brasília: UnB, 1985.
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.

quarta-feira, 25 de março de 2020

FILOSOFIA ANTIGA: Os Pré- Socráticos



Os primeiros filósofos

A grande aventura intelectual dos gregos não começou propriamente na Grécia continental, mas nas colônias da Jônia e da Magna Grécia, onde florescia o comércio. Os primeiros filósofos viveram por volta dos séculos VII e VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos, quando a divisão da filosofia grega centralizou-se na figura de Sócrates.
Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram com o tempo, e só nos restaram alguns fragmentos ou referências de filósofos posteriores. Sabemos que geralmente escreviam em prosa, abandonando a forma poética característica das formas epopeias, dos relatos míticos.


Principais problemas (Questões filosóficas)
           
            Os primeiros filósofos ocupavam-se com questões cosmológicas, iniciando a separação entre a filosofia e o pensamento mítico. Os principais problemas filosóficos tratados foram:
- A origem dos fenômenos da natureza e das coisas.

- A relação do homem com a natureza que o rodeia.


São os primeiros pensadores e centraram a atenção na natureza, chamados de filósofos da:
physis (natureza);

kosmo (ordem);

arché (princípio);

lógos (razão)

Tales de Mileto
Esses filósofos pretendiam entender de maneira física e racional o mundo em que viviam, o cosmo (physis), buscando o elemento primeiro (arché), aquele que é responsável por dar origem a todas as coisas, deixando de lado respostas míticas e religiosas. Suas explicações, portanto, eram embasadas na razão (lógos). O primeiro a realizar essa forma de questionamento e a respondê-lo de maneira racional foi TALES DE MILETO (623-546 a.C.), dando como resposta para o fundamento de tudo a água (arché), que estaria ligada à vida e seria o elemento que está em todas as coisas.


Compreendendo a Arché (pronuncia-se arké)

A investigação empreendida pelos pensadores Pré-Socráticos caracterizou-se principalmente pela busca da arché, a origem, o começo. Dentre os objetivos desses primeiros filósofos, destaca-se a construção de uma cosmologia - explicação racional e sistemática das características do universo - que substituísse a antiga cosmogonia - explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos. Assim, com base na razão e não na mitologia, os primeiros filósofos gregos tentaram encontrar o princípio substancial ou substância primordial (arché, em grego) existente em todos os seres, a "matéria-prima" de que são feitas todas as coisas.

Principais filósofos das Escolas Pré-Socráticas

Segundo o foco e o local de desenvolvimento da filosofia, o período pré-socrático está dividido em Escolas ou Correntes de pensamento, a saber:


Escola Jônica: desenvolvida na colônia grega Jônia, na Ásia Menor (atual Turquia), seus principais representantes são:


Tales de Mileto (arché = água)
Anaxímenes de Mileto (arché = o ar),

Anaximandro de Mileto (arché = ápeiron “indeterminado)

Heráclito de Éfeso (arché = fogo).

  
Escola Pitagórica: também chamada de "Escola Itálica", foi desenvolvida no sul da Itália, e recebe esse nome posto que seu principal representante foi:
Pitágoras de Samos (arché = número).

Escola Eleática: desenvolvida no sul da Itália, sendo seus principais representantes:

Parmênides de Eléia e

Zenão de Eléia (arché = o Ser)


Escola Atomista: também chamada de “Atomismo”, foi desenvolvida na região da Trácia, sendo seus principais representantes:

Demócrito de Abdera e Leucipo de Abdera (arché = o átomo) Átomo quer dizer não-divisível


ATIVIDADE PARA COMPREENDER MELHOR (Responder no caderno)

1- Como os filósofo pré-socráticos também podem ser chamados?
2- O que é physislogosarché e cosmo?
3- O que buscavam os filósofos pré-socráticos?
4- Quem foi considerado o primeiro filósofo? Quais eram seus questionamentos? Qual resposta ele encontrou para os seus questionamentos?
5- O que significa dizer que os filósofos Pré-Socráticos tentaram substituir a antiga cosmogonia por uma cosmologia?



Referência Bibliográfica:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 4ªed. São Paulo: Moderna, 2009.
COTRIM, Gilberto. FERNANDES, Mirna. Fundamento de Filosofia4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.208 - 215).
GALLO, Silvio. Filosofia: Experiência do pensamento. 2ª Ed. São Paulo: Scipione, 2016 (p.14 – 16).

História da Filosofia - Visão Geral


História da Filosofia

Com mais de 2500 anos de existência, a filosofia ocidental também possui uma história.Ela costuma estar dividida e organizada em quatro grandes épocas, seguindo mais ou menos a periodização (divisão em períodos) tradicional da história do mundo ocidental.

História da Filosofia Antiga: Desde o surgimento da filosofia na Grécia (VII a.C) e caracteriza-se pelos seguintes períodos e pensadores:
·         Pré- Socráticos: Tales de Mileto, Anaximandro, Pitágoras, Parmênides, Zenão de Eleia, entre outros;
·         Filosofia Clássica: Destaque para Sócrates, Platão e Aristóteles;
·         Filosofia Helenística: Epicuro, Zenão de Cicio, Pirro de Élis, entre outros;
·         Filosofia greco-romana: Sêneca, Cícero, Plotino, Plutarco, entre outros;

História da Filosofia Medieval: Desde a queda do Império Romano (século V) e a expansão do cristianismo, caracteriza-se pelos seguintes períodos e pensadores:
·         Patrística: Destaque para Santo Agostinho;
·         Escolástica: Destaque para São Tomás de Aquino;
·         Filosófos europeus não restritos à tradição cristã:Roger Bacon e Guilherme de Ockham, entre outros;
·         Filósofos não europeus e não cristão: Avicena, Averróis e Maimônides, entre outros;

História da Filosofia Moderna: Desde o renascimento (século XV) caracteriza-se pelos seguintes períodos, assuntos e pensadores:;

·   Filosofia renascentista: Nicolau Maquiavel, Michel Montaigne, Giordano Bruno, entre outros
·    Racionalismo e Empirismo:Francis Bacon, René Descartes, BlaisePascal, Thomas Hobbes, Baruch Espinosa, GottfriedLeibniz, entre outros;
·      Iluminismo:John Locke, George Berkeley, David Hume, Immanuel Kant, Jean Jacques Rousseau, Voltaire, entre outros;

História da Filosofia Contemporânea: De meados do século XIX em diante caracteriza-se pelos seguintes assuntos e pensadores:
·         Idealismo Alemão:Destaque para Georg Wilhelm Hegel;
·         Materialismo dialético:Karl Marx e Friedrich Engels;
·         Positivismo:Destaque para August Comte;
·         Utilitarismo: Destaque para Jeremy Bentham e John Stuart Mill;
·         Filosofia Analítica:GottlobFrege, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein, entre outros;
·       Fenomenologia e existencialismo:Edmund Husserl, Martin Heidegger,Jean Paul  Sartre, Maurice Merleau-Ponty e Simone de Beauvoir, entre outros
·         Escola de Frankfurt: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walther Benjamin, entre outros;
·    Estruturalismo e filosofia pós-moderna:Claude Lévi Strauss, Michel Foucault, Jacques Derrida, Jean FrançoisLyotard, Baudrillard, entre outros.

Referência: COTRIM, Gilberto. FERNANDES, Mirna. Fundamento de Filosofia. 4º Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.(p,90)

terça-feira, 24 de março de 2020

Aristóteles – A Ética do Equilíbrio



Falar de ética é tratar essencialmente da reflexão que se faz toda vez que é preciso identificar a melhor maneira de viver e de conviver. Ao primeiro olhar, ética talvez tenha a ver com vida boa, com felicidade. Ética tem a ver com convivência.

Os seres humanos agem conscientemente, e cada um de nós é senhor de sua própria vida. Mas como resolvemos o que fazer? Você em algum momento já pensou em como você toma as decisões sobre o que fazer em determinada situação? Você age impulsivamente, fazendo “o que der na telha” ou analisa cuidadosamente as possibilidades e as consequências, para depois resolver o que fazer?

A Filosofia pode nos ajudar a pensar sobre nossa própria vida. Chama-se Ética a parte da Filosofia que se dedica a pensar as ações humanas e os seus fundamentos. Um dos primeiros filósofos a pensar a Ética foi Aristóteles (384-322 a.C.), que viveu na Grécia no século IV a.C. Esse filósofo ensinava numa escola a qual deu o nome de Liceu, e muitas de suas obras são resultado das anotações que os alunos faziam de suas aulas. As explicações sobre a ética foram anotadas pelo filho de Aristóteles chamado Nicômaco, e por isso, esse livro é conhecido por nós com o título de Ética a Nicômaco.

Aristóteles procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para o que tendemos? E respondeu: para a felicidade.

E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o filósofo, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A felicidade última e maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais essencialmente humano: a razão.


O indivíduo que se desenvolve no plano teórico, pode compreender a essência da felicidade e, de forma consciente, guiar sua conduta. Mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga, seria privilégio de uma minoria. Segundo o filósofo, a pessoa comum, aquele que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e repetida das ações.

Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o que seria a virtude? Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica:

A excelência moral, então, é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio termo determinado pela razão. Trata-se de um estado intermediário, porque nas várias formas de deficiência moral a falta ou o excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a excelência moral encontra e refere o meio termo.

A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a covardia (a deficiência) e a temeridade (o excesso). Assim, o filósofo propôs uma ética do meio termo, na qual a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência.

Também é importante notar que tanto em Platão como em Aristóteles, a ética estava vinculada à vida política. Aristóteles refere-se mesmo à política como um meio da ética, pois, sendo o ser humano, por natureza, um ser sociopolítico, necessitaria da vida em comum para alcançar a felicidade como plenitude de seu bem-estar.

Reflita e Responda:

1. Aristóteles explicava a virtude como um meio termo entre dois vícios. Com base nessa afirmação, explique a ética aristotélica.

2. Conforme, Aristóteles, é pela razão que se atinge a sabedoria capaz de desenvolver a ética do equilíbrio. Considere quem não tem acesso ao conhecimento filosófico racional, como poderiam tais pessoas agir corretamente?


Referência Bibliográfica:
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016.
FILHO, Clóvis de Barros; POMPEU, Júlio. A Filosofia Explica as Grandes Questões da Humanidade. Editora Leya. Rio de Janeiro. 2013.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus, 2010.