quinta-feira, 7 de maio de 2020

SÓCRATES - Conhece a ti mesmo


Será que conhecemos verdadeiramente o que acreditamos conhecer?

Contexto histórico

O século de Péricles

      Sócrates (470-399 a.C) nasceu numa época em que Atenas se tornava uma potência política, econômica e militar, a cidade Estado hegemônica da Grécia. Nasceu no chamado “século de Péricles”, que passou a governar Atenas quando Sócrates tinha vinte anos de idade. O século que viu nascer foi o chamado “século de ouro”, “época das luzes”, o “milagre grego”, sem similar na história do mundo ocidental. A democracia já era uma realidade desde que Clístenes introduzira suas reformas. Atenas era uma cidade florescente.

Mesmo tendo sido muitas vezes incluído entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e opunha-se a eles de forma crítica. Opunha-se, igualmente, aos poderosos de seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper a juventude. Por isso, foi condenado e morto. O pensamento de Sócrates que predominantemente chegou até nos foi transmitido por Platão.


         Quem foi Sócrates

Busto de Sócrates

          Sócrates foi filho de Sofronisco, um escultor e Fenareta, uma parteira. Nasceu em Atenas, onde passou toda sua vida. Sócrates é considerado um marco divisório na história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de Pré-Socráticos e os que o sucederam, de Pós-Socráticos. O próprio Sócrates, porém, não deixou nada escrito. O que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. A popularidade de Sócrates em Atenas era decorrente de sua atitude em relação à filosofia: Sócrates percorria a cidade com frequência dialogando com os jovens e adultos nos espaços públicos. Essa atividade, aliás, era condizente com a cultura ateniense da época, afinal a democracia se fundamentava justamente nos debates públicos.



A verdade e a felicidade em Sócrates

            Para Sócrates a procura pela verdade implicava em conseguir uma convivência honesta e digna entre os homens. Para ele conhecer a verdade teria como consequência inevitável agir bem, quanto aos maus atos, só seriam cometidos por ignorância. O bem e a verdade estariam intimamente ligados, seriam inseparáveis, conhecer seria igual a conhecer o bem. Agir conforme o bem seria decorrência do conhecimento. Pelo mesmo raciocínio, uma ação danosa a si ou a outros seria decorrência do desconhecimento, da ignorância.
            De acordo com o pensamento de Sócrates, a finalidade da vida é a felicidade, que estaria na capacidade do ser humano em estabelecer para si mesmo, por meio do saber, suas próprias leis e regras de condutas (de como agir).


O Método Socrático: a dialética e a arte de perguntar

Ironia: No início dos diálogos, Sócrates costumava apresentar-se como quem deseja aprender com que estava conversando, fazendo-lhe perguntas, uma atrás da outra. Por isso, essa primeira parte é chamada também de ironia, palavra que significa “interrogação fingindo ignorância”.

        Com habilidade de raciocínio, no entanto, conduz suas questões de forma a evidenciar as contradições e os problemas que surgem a cada resposta de seu interlocutor. Desse modo vai refutando, negando, contestando as concepções que o outro tinha sobre determinado assunto e, ao mesmo tempo, demolindo seu orgulho, sua arrogância e sua presunção de saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “Só sei que nada sei”.

Maiêutica: Na segunda etapa do diálogo, liberto do orgulho e da pretensão de que tudo sabe, o interlocutor já está em condições de iniciar o caminho de reconstrução de suas próprias ideias. Novamente Sócrates lhe propõe, com grande habilidade, uma série de questões, ajudando-o a trazê-las à luz. Por isso, essa fase do diálogo socrático é chamada de maiêutica, palavra que significa “arte de ajudar a dar á luz, a parir”.

           Não sei se o leitor observou, mas o Método Socrático tem uma inspiração nos pais dele. Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira, o que o levou a buscar esculpir, simbolicamente, uma representação autêntica do ser humano e a ajudar seus discípulos a dar à luz suas próprias ideias.

           
A morte de Sócrates

A morte de Sócrates


           Sócrates não dava importância à condição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as qualidades interiores de cada pessoa, condições indispensáveis ao processo de autoconhecimento.

   Como não fazia distinção entre seus interlocutores e questionava tudo, incluindo crenças e valores comuns, foi considerado uma ameaça social, um subversivo. Interessado na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dominantes da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo, em 399 a.C., foi condenado a beber cicuta, um veneno letal extraído de uma planta de mesmo nome.

        Foi então, concedida a chance de escapar da pena se renegasse suas ideias diante do tribunal, ao mesmo tempo em que alguns amigos arquitetaram um plano para que ele fugisse de Atenas. Entretanto, Sócrates não aceitou nenhuma das alternativas, ambas desonrosas do seu ponto de vista e foi morto por meio da ingestão do veneno. Nesta ocasião, Sócrates teria dito uma frase que ficou famosa: “Uma vida vivida sem reflexão (filosofia) não vale a pena ser vivida”. Diante dos juízes, Sócrates assumiu uma postura altaneira e imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência.

(Para saber mais sobre a morte de Sócrates, leia, neste mesmo blog, uma publicação com o título “Cicuta Mortal”).


Questões para reflexão:

1) Explique com suas palavras o que é a Ironia e Maiêutica, procedimentos utilizados por Sócrates para chegar ao conhecimento verdadeiro.

2) Por que, para Sócrates, agir bem ou fazer o bem, estava ligado ao conhecimento?

3) “Só sei que nada sei”, frase atribuída a Sócrates, é aparentemente contraditória. Qual a importância desse princípio nas ideias defendidas pelo filósofo?

4) O que Sócrates fez para ser considerado um elemento perturbador da democracia ateniense?

5-) Por que é possível dizer que a condenação de Sócrates teve um motivo político?

Referência

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002. (p.46-49)
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.222)
MEIER. Celito. Filosofia: por uma experiência da complexidade. Volume único. 2ª Ed. Belo Horizonte: MG; Pax Editora e Distribuidora, 2014 (p.101)

Imagem 1 Péricles: 
Imagem 2 Sócrates:
Imagem 3 Os três filtros de Sócrates:
Imagem 4 A morte de Sócrates:

Nenhum comentário:

Postar um comentário