Será que conhecemos verdadeiramente o que acreditamos
conhecer?
Contexto histórico
O século de Péricles |
Sócrates
(470-399 a.C) nasceu numa época em que Atenas se tornava uma potência política,
econômica e militar, a cidade Estado hegemônica da Grécia. Nasceu no chamado
“século de Péricles”, que passou a governar Atenas quando Sócrates tinha vinte
anos de idade. O século que viu nascer foi o chamado “século de ouro”, “época
das luzes”, o “milagre grego”, sem similar na história do mundo ocidental. A
democracia já era uma realidade desde que Clístenes introduzira suas reformas.
Atenas era uma cidade florescente.
Mesmo tendo sido muitas vezes incluído entre
os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e opunha-se a eles de forma
crítica. Opunha-se, igualmente, aos poderosos de seu tempo, sendo acusado de não
crer nos deuses da cidade e corromper a juventude. Por isso, foi condenado e
morto. O pensamento de Sócrates que predominantemente chegou até nos foi
transmitido por Platão.
Quem foi Sócrates
Busto de Sócrates |
Sócrates foi filho de
Sofronisco, um escultor e Fenareta, uma parteira. Nasceu em Atenas, onde passou
toda sua vida. Sócrates é considerado um marco divisório na história da
filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de
Pré-Socráticos e os que o sucederam, de Pós-Socráticos. O próprio Sócrates,
porém, não deixou nada escrito. O que se sabe dele e de seu pensamento vem dos
textos de seus discípulos e de seus adversários. A popularidade de Sócrates em
Atenas era decorrente de sua atitude em relação à filosofia: Sócrates percorria
a cidade com frequência dialogando com os jovens e adultos nos espaços
públicos. Essa atividade, aliás, era condizente com a cultura ateniense da
época, afinal a democracia se fundamentava justamente nos debates públicos.
A verdade e a
felicidade em Sócrates
Para Sócrates a procura pela verdade
implicava em conseguir uma convivência honesta e digna entre os homens. Para
ele conhecer a verdade teria como consequência inevitável agir bem, quanto aos
maus atos, só seriam cometidos por ignorância. O bem e a verdade estariam
intimamente ligados, seriam inseparáveis, conhecer seria igual a conhecer o
bem. Agir conforme o bem seria decorrência do conhecimento. Pelo mesmo
raciocínio, uma ação danosa a si ou a outros seria decorrência do
desconhecimento, da ignorância.
De acordo com o pensamento de
Sócrates, a finalidade da vida é a felicidade, que estaria na capacidade do ser
humano em estabelecer para si mesmo, por meio do saber, suas próprias leis e
regras de condutas (de como agir).
O Método Socrático: a dialética e a arte de perguntar
Ironia: No início dos
diálogos, Sócrates costumava apresentar-se como quem deseja aprender com que
estava conversando, fazendo-lhe perguntas, uma atrás da outra. Por isso, essa
primeira parte é chamada também de ironia,
palavra que significa “interrogação fingindo ignorância”.
Com
habilidade de raciocínio, no entanto, conduz suas questões de forma a
evidenciar as contradições e os problemas que surgem a cada resposta de seu
interlocutor. Desse modo vai refutando, negando, contestando as concepções que
o outro tinha sobre determinado assunto e, ao mesmo tempo, demolindo seu
orgulho, sua arrogância e sua presunção de saber. A primeira virtude do sábio é
adquirir consciência da própria ignorância. “Só
sei que nada sei”.
Maiêutica: Na segunda etapa do
diálogo, liberto do orgulho e da pretensão de que tudo sabe, o interlocutor já
está em condições de iniciar o caminho de reconstrução de suas próprias ideias.
Novamente Sócrates lhe propõe, com grande habilidade, uma série de questões,
ajudando-o a trazê-las à luz. Por isso, essa fase do diálogo socrático é chamada
de maiêutica, palavra que significa “arte
de ajudar a dar á luz, a parir”.
Não
sei se o leitor observou, mas o Método Socrático tem uma inspiração nos pais
dele. Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira, o que o levou a
buscar esculpir, simbolicamente, uma representação autêntica do ser humano e a
ajudar seus discípulos a dar à luz suas próprias ideias.
A morte de Sócrates |
A morte de Sócrates
Sócrates não dava importância à
condição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres,
cidadãos e escravos. O que importava eram as qualidades interiores de cada
pessoa, condições indispensáveis ao processo de autoconhecimento.
Como não fazia distinção entre seus
interlocutores e questionava tudo, incluindo crenças e valores comuns, foi
considerado uma ameaça social, um subversivo. Interessado na prática da virtude
e na busca da verdade, contrariava os valores dominantes da sociedade
ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo, em 399 a.C., foi
condenado a beber cicuta, um veneno
letal extraído de uma planta de mesmo nome.
Foi
então, concedida a chance de escapar da pena se renegasse suas ideias diante do
tribunal, ao mesmo tempo em que alguns amigos arquitetaram um plano para que
ele fugisse de Atenas. Entretanto, Sócrates não aceitou nenhuma das
alternativas, ambas desonrosas do seu ponto de vista e foi morto por meio da
ingestão do veneno. Nesta ocasião, Sócrates teria dito uma frase que ficou
famosa: “Uma vida vivida sem reflexão (filosofia) não vale a pena ser vivida”. Diante dos juízes, Sócrates assumiu
uma postura altaneira e imperturbável, de quem nada teme. Permanecia
absolutamente em paz com sua própria consciência.
(Para
saber mais sobre a morte de Sócrates, leia, neste mesmo blog, uma publicação
com o título “Cicuta Mortal”).
Questões para
reflexão:
1)
Explique com suas palavras o que é a Ironia e Maiêutica, procedimentos
utilizados por Sócrates para chegar ao conhecimento verdadeiro.
2)
Por que, para Sócrates, agir bem ou fazer o bem, estava ligado ao conhecimento?
3)
“Só sei que nada sei”, frase atribuída a Sócrates, é aparentemente
contraditória. Qual a importância desse princípio nas ideias defendidas pelo
filósofo?
4)
O que Sócrates fez para ser considerado um elemento perturbador da democracia
ateniense?
5-)
Por que é possível dizer que a condenação de Sócrates teve um motivo político?
Referência
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo:
Atual, 2002. (p.46-49)
COTRIM,
Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos
de Filosofia. 4ªed. São Paulo: Saraiva, 2016. (p.222)
MEIER.
Celito. Filosofia: por uma experiência da complexidade. Volume único. 2ª Ed.
Belo Horizonte: MG; Pax Editora e Distribuidora, 2014 (p.101)
Imagem
1 Péricles:
https://pt.slideshare.net/ProfessoresColeguium/o-sculo-de-pricles-e-troia
acessado em 06/05/2020 às 16h19
Imagem
2 Sócrates:
https://www.opopular.com.br/noticias/ludovica/blogs/2.233387/filosofia-com-1.861139/s%C3%B3crates-1.950677
acessado em 06/05/2020 às 16h22
Imagem 3 Os três filtros de Sócrates:
http://obloghumanista.blogspot.com/2014/11/os-tres-filtros-de-socrates.html
acessado em 06/05/2020 às 16h28
Imagem 4 A morte de Sócrates:
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