Epicuro
(341-270 a.C.) um cidadão de família nobre de Atenas, fundou em 306 a.C. uma
escola no jardim de uma grande casa. Segundo o epicurismo, a filosofia deve
servir para libertar o homem do medo do destino, da morte, das divindades. Epicuro
é representante de uma teoria filosófica chamada Hedonismo. A ética (modo de agir) que os epicuristas defendiam é
que o supremo bem a ser buscado na vida é o prazer (em grego, hedon). Sobre a morte, ele enunciou um
princípio ético: não há que temer a morte, pois com a morte nada sentimos e
depois dela não mais existimos. Trata-se, então, de viver plenamente a vida.
Habitua-te a pensar que a morte nada mais é para nós,
visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é
privação da sensibilidade. (EPICURO. Antologia de textos. 3ªed. São
Paulo: Abril Cultural, 1985. p. 13. (Os Pensadores)
No entanto,
o epicurismo afirmava que a finalidade da vida é o prazer. Não um prazer obtido
simplesmente, por meio dos instintos ou das paixões; e sim pela razão: o
verdadeiro prazer estaria em superar todos os desejos, não ter necessidade de
nada.
Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não
queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela
sensualidade, como crêem certos ignorantes, que s encontram em desacordo
conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de
sofrimento do corpo e de perturbações da alma.
(Antologia de textos, Epicuro)
A
doutrina epicurista afirmava ainda que valores como a amizade, o pensamento, a
apreciação das belezas naturais e das artes são formas de obter essa
satisfação. A felicidade – a paz espiritual – (ataraxia, em grego) seria alcançada quando o homem atingisse o
autodomínio, isto é, se libertasse de todos os medos e desejos, agindo somente
segundo sua vontade.
É
importante observar, contudo, que ao falar em prazer Epicuro não se referia ao prazer sensorial, mas ao prazer racional. Tratava-se do prazer
do sábio o exercício da quietude da mente e da paz de espírito, o controle
sobre as emoções e o domínio de si mesmo. Esse é o verdadeiro prazer, fonte da
saúde e da felicidade. Entre os prazeres intelectuais, Epicuro incluía a
amizade. Assim, sua escola, O Jardim, era uma comunidade na qual os discípulos
compartilhavam a vida com o mestre, vivendo longe das agitações da cidade.
Eliminar ou moderar os desejos
Epicuro também
dizia que quem espera muito sempre corre o risco de se decepcionar. Por isso,
ele recomendava que as pessoas
eliminassem todos os desejos desnecessários e se permitissem apenas os naturais
e necessários, mesmo assim com moderação. Isso significa fazer uma distinção
entre os desejos, que, para o filósofo, podiam ser classificados em três tipos:
Naturais e necessários: como os
desejos de comer, beber e dormir;
Naturais e desnecessários: como os
desejos de comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais e caras e dormir
em lençóis luxuosos;
Não naturais e desnecessários: como os
desejos de riqueza, fama e poder.
Contentar-se
com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa
reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um copo de água. Gozar
o prazer eventual de um banquete ou de um cargo elevado não é proibido, mas não
deveria ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a
insatisfação, o desprazer, a infelicidade.
Devemos escolher
os prazeres com prudência racional. Alguns são mais duradouros e encantam o
espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes e a audição de
música. Já outros, movidos pela explosão, são muito intensos e imediatos, mas
perdem sua força com o passar do tempo. Esse discernimento nos possibilita
realizar uma escolha prudente e racional dos prazeres, evitando aqueles que
podem produzir infelicidade.
Em suma, o
epicurismo constitui uma ética hedonista, colocando o “verdadeiro prazer”, o
prazer do repouso do espírito, como o bem a ser almejado. Não se trata de uma
busca desenfreada por bens materiais, mas do exercício paciente do pensamento
como forma de produzir a tranquilidade da alma. A felicidade consiste, para
Epicuro, em não sofrer no corpo, evitando as dores que podem ser evitadas, e
não ter a alma perturbada.
QUESTÕES PARA REFLETIR E CONSTRUIR O PENSAMENTO
1. Explique o
que significa a teoria hedonista.
2. Escreva exemplos de desejos naturais e necessários, e desejos não necessários e não naturais.
3. Escreva exemplos de prazeres que duram pouco e prazeres que duram mais.
4. Por que podemos dizer que a filosofia epicurista é uma ética?
5. Faça uma lista abrangente de seus desejos. depois procure classificá-los de acordo com a teoria de Epicuro.
6. Você acredita que, se desenvolvesse o autocontrole e apenas desejasse o que é natural e necessário, sofreria menos ou seria mais feliz?
Referência Bibliográfica:
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual, 2002.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna.
Fundamentos de Filosofia. 4ªed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
EPICURO. Antologia de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (col. Os Pensadores)
_________. O epicurismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.
GALO, Sílvio. Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 18ªed. Campinas, SP: Papirus,
2010.